Artigo: Professores ganham pouco num Brasil que tem orgulho da ignorância

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A média salarial dos professores da educação básica é mais baixa (69,8%) que a do conjunto dos trabalhadores brasileiros com ensino superior. Enquanto docentes tem rendimento médio de R$ 3.823,00, o segundo grupo tem R$ 5.477,05. Na comparação com o salário médio de profissionais das áreas de Exatas e Saúde, a defasagem chega a 50%. Os dados são do Anuário Brasileiro da Educaçãoa Básica 2019, divulgado nesta terça (25), pelo Movimento Todos pela Educação em parceria com a Editora Moderna, com base em dados do IBGE.

A categoria essencial para permitir que o Brasil dê o salto em produtividade e em desenvolvimento humano e social continua sendo maltratada. O que acaba por torná-la pouco atrativa e, não raro, a primeira opção apenas de pessoas abnegadas.

De acordo com a publicação, 19,6% dos municípios da região Norte e 15,6% dos da região Sudeste não oferecem planos de carreira aos docentes. E uma quantidade significativa de professores ainda lecionam em mais de uma instituição de ensino simultaneamente: 28,6% dos professores no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, 28,2% no Mato Grosso do Sul e 26,5% no Paraná, por exemplo.

O Anuário aponta que a média salarial dos professores da rede pública vem crescendo –  nos últimos sete anos foi um aumento de 6,4%. A velocidade, contudo, é insuficiente para o desafio que temos pela frente.

É triste que parte dos “homens e mulheres de bem” que defendem a educação como solução não acredita que salários mais altos, mais gastos em formação técnico-pedagógica e melhor infraestrutura tenha a ver com a melhoria da sociedade. E repetem o mesmo discurso que uma educação de qualidade não passa por pesados investimentos novos, mas por sinergia e boa vontade. Muita gente repete esses mantras porque eles são superficiais. É bonito pedir educação para todos e todas. Mas a mudança real de modelo que isso significa na prática fere os valores defendidos por quem almeja um Estado mínimo. Educação de qualidade, desde que você trabalhe e pague por ela.

Não há possibilidade de resolvermos os problemas da educação sem grandes injeções de recursos na remuneração e formação de docentes, afinal não estamos no estágio de manutenção da excelência, mas de garantir um mínimo de dignidade.

Quando a PEC do Teto dos Gastos foi aprovada, durante o governo Temer, avisamos que Educação e Saúde sofreriam o impacto em pouco tempo se o reajuste das receitas se desse apenas pela inflação e não considerasse a demanda por investimentos que temos pela frente nessas áreas. Depois, vieram os cortes no orçamento baixados pelo governo Bolsonaro, feitos por pessoas com cabeça e coração de planilha.

Esqueçam o desvio do orçamento da educação para pagamento de juros da dívida pública, esqueçam a incapacidade administrativa e gerencial, o sucateamento e a falta de apoio para a formação dos profissionais, os salários vergonhosamente pequenos e atrasados, a falta de planos de carreira, a ausência de infraestrutura, de material didático, de merenda decente, de segurança para se trabalhar. Esqueçam os projetos impostos de cima para baixo que fecham escolas e desfazem comunidades escolares. Esqueçam o gás lacrimogênio e as balas de borracha contra professores que fazem greve.

O Brasil joga nas costas do professor e do aluno a responsabilidade pelo sucesso ou o fracasso das políticas públicas de educação, de que deve enfrentar a adversidade e “vencerem na vida”.  Esse discurso passa uma mensagem do tipo “quem não consegue chegar lá por conta própria sem depender de uma escola de qualidade, de um bom professor e de uma rede de proteção social merece nosso desprezo”.

Uma mudança real e profunda na educação no Brasil não será feita por um Estado mínimo apoiado apenas em escolas particulares. Estado que ficou mais mínimo ainda após o governo Michel Temer e o Congresso Nacional aprovarem a Emenda do Teto dos Gastos, congelando investimentos públicos em áreas como educação por 20 anos. Espero que uma parcela economicamente poderosa da sociedade se dê conta disso antes que o futuro esteja irremediavelmente na lata do lixo.

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