Cuidado com fake news sobre coronavírus

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Pesquisadora da USP rebate informações falsas que circulam nas redes e reforça: não há motivo para pânico. Lavar as mãos é uma das dicas reais de prevenção contra o coronavírus

Não espalhe fake news sobre o coronavírus nem sobre outro assunto. Dúvidas podem ser esclarecidas pela equipe do Nunca vi 1 Cientista

São Paulo – Fake news é uma praga moderna. Alastra-se pelas redes sociais e aplicativos de forma viral. As mais recentes, além das disseminadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, são as que tratam de formas de prevenção contra o coronavírus.

Em reportagem do Jornal da USP, a farmacêutica-bioquímica Laura de Freitas desmente algumas das muitas informações falsas que estão circulando país afora. Mestra e doutora em Biociências e Biotecnologia, a pesquisadora da USP pede para quem receber alguma mensagem duvidosa ou tiver mais dúvidas, entrar em contato com a equipe do Nunca vi 1 Cientista, pelo Facebook ou Instagram.

E, claro, nunca compartilhar mensagens sobre as quais não se possa checar a fonte das informações. Isso vale para qualquer mensagem, não só as que tratam do coronavírus.

Se uma mensagem cita um artigo, mas não o mostra, desconfie. São grandes as chances de ser uma mensagem falsa”, ressalta a pesquisadora.

Por exemplo, lembra ela, não existem artigos que tenham medido quanto tempo o vírus dura nas mãos, mas é verdade que as mãos são as principais transmissoras de vírus e bactérias. “Lave as mãos após cumprimentar várias pessoas e tocar em objetos públicos, como corrimãos e maçanetas, e após usar o transporte público. Se não tiver como lavar as mãos imediatamente, o álcool em gel é uma boa alternativa.”

Laura Freitas ressalta: não há motivo para pânico. “Em pessoas jovens (menos de 40 anos) ele causa uma gripe e a taxa de mortalidade é de 0,2%, ou seja: morrem 2 pessoas a cada 1.000 infectadas.”

Coronavírus não causa fibrose

Uma das fake news sobre o coronavírus alerta que, como o infectado pode não mostrar sinais de infecção por muitos dias, quando tiver febre e/ou tosse e for ao hospital, os pulmões geralmente terão 50% de fibrose e será tarde demais. Assim, a falsa informação relata que “especialistas de Taiwan” ensinam uma autoavaliação “simples” que pode ser feita todas as manhãs em “ambiente com ar limpo”.

“Respire fundo e prenda a respiração por mais de 10 segundos. Se você completá-lo com sucesso sem tossir, sem desconforto, congestão ou aperto etc, isso prova que não há fibrose nos pulmões, basicamente indicando que não há infecção.”

A cientista da USP desmistifica: “É verdade que após ‘pegar’ o vírus podemos passar vários dias sem ter nenhum sintoma até a doença ‘aparecer’. Chamamos isso de período de incubação. Mas não é verdade que ao termos tosse e febre os pulmões já estão com 50% de fibrose”.

A fibrose pulmonar, lembra Laura Freitas, é uma condição em que o pulmão “ganha várias cicatrizes”, ficando mais “duro”, e isso dificulta a respiração. “Mas isso leva anos para acontecer. A fibrose acontece quando a pessoa tem uma doença crônica, como doenças reumáticas, ou fica exposta no trabalho a coisas que causam inflamação nos pulmões. Infecção pelo coronavírus não causa fibrose pulmonar”, explica. Além disso, de acordo com a doutora, o diagnóstico de fibrose envolve sete etapas diferentes de exames, além de toda uma avaliação clínica pelo médico. “Prender o ar por 10 segundos não faz parte das etapas de diagnóstico.”

Beber água não mata o vírus

Outra fake news começa com uma frase célebre desse tipo de falsa informação: “conselhos excelentes sérios por médicos japoneses”. E segue receitando garantir boca e garganta sempre úmidas. “Tome alguns goles de água a cada 15 minutos, pelo menos… Mesmo que o vírus entre em sua boca, beber água ou outros líquidos os lavará pelo esôfago e pelo estômago. Uma vez lá na barriga, seu ácido do estômago matará todo o vírus. Se você não beber água suficiente com mais regularidade, o vírus pode entrar nas traqueias e nos pulmões. Isso é muito perigoso.”

A farmacêutica-bioquímica Laura de Freitas reforça que manter a hidratação do nariz e da boca realmente dificulta a infecção pelo vírus, mas não tem nada a ver com “lavar” o vírus pelo esôfago ou estômago. “Nosso nariz produz um muco natural que nos protege contra vírus e bactérias ao formar uma camada protetora em cima das nossas células”, informa a cientista. “Quando estamos desidratados ou o tempo está muito seco, a quantidade desse muco diminui, e isso facilita a entrada dos vírus e bactérias. Manter-se hidratado ajuda o corpo a se proteger de infecções respiratórias, mas não é uma garantia: depende do número de vírus que entrar no seu nariz/boca.”

E reforça: “as melhores medidas para se proteger são: lavar as mãos após cumprimentar pessoas e usar o transporte público (ou tocar em qualquer coisa pública), manter-se hidratado, comer de forma saudável e evitar aglomerações de pessoas”.

Calor e gargarejos não funcionam

Outra fake news afirma que vírus é fraco e não resiste ao calor. “Temperaturas de 26 ou 27° C já matam o dito cujo”, prega a mentira.

A doutora, no entanto, lembra: a temperatura média do nosso corpo varia entre 36°C e 37°C. “Se o vírus ‘morresse’ a 26°C não seria capaz de causar uma infecção em humanos. Se o vírus estiver fora do corpo em um ambiente com temperatura alta, entre 30°C e 40°C, ele dura menos tempo ‘vivo’, porque vai ‘desidratar’ rápido, mas continua sendo capaz de causar infecção por bastante tempo.”

Ela avisa também que chá quentinho é gostoso, mas não vai matar o vírus. “O vírus infecta os pulmões, e o chá não chega até lá”, diz, desmentindo a receita que manda beber água quente ou chá quente para matar o coronavírus.

Outra informação falsa que circula nas redes sociais diz que uma das características do vírus é a tosse seca. E que por 3 a 4 dias ele ficaria restrito à garganta. “Assim, nesta fase fazer gargarejos já ajuda a minimizar o impacto. A 2a fase da doença dura 5 a 6 dias e nesta fase o vírus causa coriza e também infecta os pulmões causando pneumonia. A doença vencida este prazo se torna letal…a pessoa tem a sensação de estar respirando debaixo d’água.”

Para derrubar mais essa mentira, a cientista da USP explica que o coronavírus covid-19 (atual), assim como o SARS-CoV (2002), infecta as células do pulmão, não da garganta ou do nariz. “Eles usam o nariz e a garganta como porta de entrada no corpo apenas. A tosse e a coriza (nariz escorrendo) são sintomas do vírus se multiplicando e o nosso corpo reagindo. Fazer gargarejos não vai matar o vírus, mas pode aliviar aquela coceira na garganta. Por infectar as células do pulmão, ele pode mesmo causar pneumonia, mas isso só acontece nas pessoas mais debilitadas, com imunidade muito baixa, principalmente idosos (mais de 80 anos).”

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