Especial | Diálogos Capitais Governo retomou ofensiva pela privatização, afirma ex-presidente da Caixa

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A mensagem do governo que se instalou em Brasília após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff é clara: acabar com os bancos públicos. A afirmação é de Maria Fernanda Ramos Coelho, ex-presidente da Caixa Econômica Federal e ex-ministra do Desenvolvimento Agrário. Para ela, os “argumentos vazios” se repetem: a suposta ineficiência, a necessidade de aumentar a competitividade, o corporativismo. Nada disso, no entanto, encontra eco na realidade.

“Este governo retomou a ofensiva de privatização e descaracterização do papel da Caixa e do Banco do Brasil, com programas de desligamento voluntário, de aposentadoria, de fechamento de agências. Mais de 10 mil agências foram fechadas”, comentou ela, ressaltando a contradição: “No entanto, os bancos públicos apresentam lucros estratosféricos”.

Maria Fernanda destacou dois movimentos distintos ocorridos na Caixa nas últimas décadas. Nas décadas de 80 e 90, 28 bancos públicos foram federalizados para posterior privatização ou extinção.

No caso da Caixa, dos 50 mil empregados, cerca de 30 mil foram terceirizados. Nos governos Lula, inverteu-se a lógica, investindo em tecnologia e qualificação de pessoal. Com isso, durante a crise de 2008, foi possível crescer, saltando de 20% do mercado de crédito para 50%.

“Trabalhamos no crédito da pessoa física, da pessoa jurídica, no mercado habitacional. Em 2009, tivemos o lançamento do Minha Casa Minha Vida. De lá para cá, contratamos 4,2 milhões de unidades, com 2,7 milhões entregues. BNH, em 22 anos, foram 4,8 milhões de unidades. Significou que trabalhamos o mercado de consumo interno, melhorou a vida das pessoas e teve a economia girando”, disse. “Em 2014, voltou o tema da privatização na campanha eleitoral. Esse projeto foi derrotado nas urnas”.

Com o golpe, de acordo com Maria Fernanda, a Caixa vem perdendo, a cada dia, a característica de banco público, com o aumento das taxas de juros e tarifas bancárias. “Sempre trabalhamos com taxas competitivas e sustentáveis. A caixa tem hoje 87 mil empregados. Temos uma rede extraordinária, que poderia estar dinamizando a economia. Quando você fecha uma única agencia, o impacto é muito grande para um município”.

O estaria sendo aniquilado é um projeto de país: “O papel da Caixa é muito claro, tanto da melhoria da vida das pessoas como para a economia. Cerca de 85% da nossa população mora nas cidades. 68% dos municípios tem até 20 mil habitantes.

Mais da metade da população vive em 5,6 municípios. Se tivermos um governo que reconheça a importância dos bancos públicos, que novo modelo de financiamento desta estrutura vamos desenvolver? Não dá para pensar a metrópole sem pensar o rural brasileiro. Que solução teremos para eles?

Maria Fernanda Ramos Coelho participou na quarta-feira 13, em Belo Horizonte, do debate Bancos públicos e desenvolvimento econômico e social, da série Diálogos Capitais, promovida por CartaCapital.

 

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