Privatizar BB deixaria comida mais cara, avalia Juvandia Moreira

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Em meio à divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, algumas das colocações do ministro da Economia, Paulo Guedes, receberam menos destaque que a de outros integrantes do gabinete de Jair Bolsonaro.

Falando de forma explícita, Guedes defendeu a privatização do Banco do Brasil. Na reunião, não há divergência entre o economista e o presidente da República, exceto quanto à data: o primeiro defende a venda imediata; o segundo, apenas em 2023.

Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), diz que a intensão do governo teria repercussões diretas para toda a população brasileira: “Alimento mais caro na mesa do brasileiro”.

“A gente já tem, no Brasil, 2.340 municípios que não têm agências bancárias. Houve uma piora durante o governo Bolsonaro. Os bancos privados só querem estar em locais considerados ‘lucrativos’. A grande consequência seria ausência de crédito, ou crédito mais caro. Há lugares que 82% do crédito vêm dos públicos”, explicou.

Entender o impacto no preço dos alimentos, especificamente em um caso de venda do Banco do Brasil, é simples. Cerca de 70% do crédito agrícola no Brasil é concedido pela instituição e pelo Banco do Nordeste, também público. Os dados apontam que os privados atuam majoritariamente na região sudeste, reforçando desigualdades regionais.

Sem estas instituições, a agricultura familiar – principal produtora de alimentos – teria piores condições na obtenção de crédito, dificultando a produção.

Privatizar: Projeto Antigo

Juvandia lembrou, em entrevista à TV 247, que a entrega do Banco à iniciativa privada é uma intenção posta no País desde o governo Temer.

“Eles não fizeram a privatização antes, porque a gente conseguiu uma liminar [em 2017] no Supremo impedindo a privatização. Para privatizar, teria que passar no Congresso Nacional”, rememorou.

Na decisão de mérito do Supremo Tribunal Federal (STF), o plenário da Corte decidiu que a venda de empresas deve passar pelo Legislativo, mas não a de subsidiárias. Desde então, a estratégia privatista tem se adequado, buscando a venda de ativos específicos das estatais.

“Aí é que está a questão: eles querem entregar tudo e a reunião deixa claro. Ele coloca o servidor público como inimigo. Essas declarações só mostram que estão ali para fazer negócio, para atender os próprios interesses, que são os do mercado financeiro”, disse Juvandia.

Os interesses mencionados pela dirigente sindical também afetam a concessão de crédito em outras áreas, notadamente para as pequenas e médio empresas. Na reunião que teve sua gravação divulgada, Guedes também afirma que emprestar ao setor é “perder dinheiro”.

“Das principais linhas de crédito [a este setor], os R$ 40 bilhões que anunciaram, é a que está pior. Só 4% desse dinheiro foi emprestado. Só 77 mil empresas conseguiram, e mais de um milhão poderiam acessar. As pequenas empresas são responsáveis pela maior parte das empresas. Não ter crédito significa não ter emprego”, apontou.

Conforme lembrado por ela, o Sebrae estima que as empresas de porte pequeno e médio são responsáveis por 90% dos empregos no País.

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