61,5 milhões de brasileiros acima de 16 anos não juntam dinheiro para aposentadoria

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Com o objetivo de compreender a percepção dos brasileiros sobre a previdência e identificar comportamentos que determinam as decisões dos cidadãos quanto a seu futuro, a Associação Nacional dos Participantes dos Fundos de Pensão (Anapar) realizou uma pesquisa inédita com a população. Entre as descobertas, uma constatação preocupante: renda insuficiente, falta de perspectiva e um elevado grau de endividamento são três fatores que, combinados, levam a maioria a não guardar dinheiro para a aposentadoria, produzindo um quadro de verdadeiro “desalento previdenciário” no país.

Pesquisa Anapar Finanças Pessoais e Previdência Brasil 2018, encomendada ao Instituto FSB Pesquisa, realizou entrevistas domiciliares com 2.045 pessoas a partir de 16 anos, em 152 municípios, entre 8 e 13 de novembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.

Maioria não guarda dinheiro
Dos 150 milhões de brasileiros a partir de 16 anos, 112 milhões (75%) declaram ter dívidas. Desses, 33% se consideram muito endividados ou endividados. Mais de 94 milhões (63%) dizem ter renda insuficiente para viver.

Somente 13% da população afirmam que poupam com alguma regularidade, 34% poupam de vez em quando e 51% não guardam dinheiro. Dos que poupam, 69% juntam até R$ 300 por mês; 46% afirmam que juntam apenas quando sobra dinheiro, 25% reservam uma parte assim que recebem e 17% deixam de comprar alguma coisa para poupar.

Com tantas incertezas, o brasileiro, quando junta, não pensa em longo prazo, mas em emergências ou na realização de um sonho, e posterga o planejamento do futuro. Perguntados sobre a principal finalidade do dinheiro poupado, 14% respondem que é para eventualidades, viagens (13%), casa própria (11%), educação dos filhos (10%), eletrônicos e eletrodomésticos (8%), carro ou moto (8%) e despesas com saúde (7%).

Falta de dinheiro leva a não poupar
Os itens mais citados como principais barreiras para juntar dinheiro são renda insuficiente (42%), despesas/contas (11%), dívidas (8%), preços elevados (6%) e gastos com saúde e educação, que somados formam 5%.

O endividamento mostra-se determinante na equação do “desalento previdenciário”. Três em cada quatro brasileiros têm dívidas. Entre eles, 36% pagam empréstimos, 22% têm financiamento de automóvel e 9% têm financiamento imobiliário. Dos endividados, 54% são mulheres e 64% têm 45 anos ou mais. A menor concentração está entre jovens de 16 a 24, apenas 8%.

Via de regra, a dívida guarda relação direta com o acesso a recursos financeiros. Não por acaso, entre os endividados, 68% são trabalhadores ativos, 21% são aposentados, 4% estão desempregados e 74% têm conta em banco.

Um dado, porém, reforça o antagonismo do endividamento com a formação de reserva previdenciária. Entre os endividados, 61% não contribuem para a Previdência Social, portanto, não guardam dinheiro para uma futura aposentadoria por meio do INSS e deixam de contar com benefícios como auxílio doença e aposentadoria por invalidez.

O obstáculo da informalidade
De acordo com a pesquisa, 65% dos brasileiros a partir de 16 anos exercem atividade remunerada. Contudo, a informalidade crescente é um obstáculo importante à aposentadoria. Sem a certeza do emprego no longo prazo, necessidades mais urgentes impedem essas pessoas de contribuir mensalmente à Previdência Social e, sujeitos à grave combinação de renda insuficiente e endividamento, muitos deixam também de poupar.

Entre os 97,5 milhões de trabalhadores remunerados, 52% são informais. A maior parte tem entre 45 e 54 anos (29%). Os demais se distribuem nas outras faixas etárias, variando entre 12% e 17%. Mais da metade dos informais (57%) ganha até 2 salários mínimos (33%), 31% recebem de 2 a 5 salários, 5% ganham de 5 a 10 salários e 1%, acima de 10 salários.

Falta de perspectiva
Todo esse contexto produz no brasileiro um raciocínio mais imediatista e uma falta de perspectiva sobre projetos pessoais de longo prazo, como é o caso da aposentadoria. Da amostra total, apenas 12% dizem que guardam dinheiro para se aposentar, 21% não guardam, mas planejam guardar e 61% não guardam dinheiro para aposentadoria nem planejam guardar.

Entre os que disseram não guardar dinheiro para se aposentar, somente 24% dizem pensar em fazer isso. Destes, 16% imaginam fazer isso em no máximo seis meses e 29% no máximo em um ano.

Entre os que ainda não se aposentaram, o grau de preocupação com a possibilidade de “não conseguir parar de trabalhar”, de 0 a 10, é 6,9. Quanto à possibilidade de que os gastos elevados com saúde consumam toda sua renda, o grau de preocupação é 6,8. Que o benefício do INSS não seja suficiente para o sustento (6,2) e a possível dependência da ajuda financeira de filhos ou familiares (5,7).

Brasil tem 61,5 milhões de “nem nem previdenciários”
O resultado de toda essa conjuntura é alarmante e projeta um futuro ainda mais difícil para o país. De todos os brasileiros, 35% contribuem para a Previdência Social. Somente 12% dizem juntar dinheiro por conta própria para aposentadoria.

Os superprevidentes, que juntam por conta própria e também contribuem para o INSS, constituem 9% da população. Os que poupam para aposentadoria, mas não contribuem para o INSS são 3%. Outros 24% não poupam pensando em se aposentar, mas contribuem para a Previdência Social. O maior grupo, 41% da população, é formado por aqueles que nem não são aposentados, não guardam dinheiro para aposentadoria, nem contribuem para o INSS. São os “nem nem previdenciários”, completamente desprotegidos seja pela Seguridade Social, seja por aplicações financeiras. São 61,5 milhões de pessoas que seguem sem guardar recursos para o amanhã, vivendo em um quadro de “desalento previdenciário”.

Se considerado somente o extrato da população que não está aposentado, os “nem nem previdenciários” representam 52%. Os superprevidentes são 11%, o que só contribuem para o INSS são 31% e os que só guardam por conta própria para aposentadoria somam 4%.

Como o brasileiro poupa para a aposentadoria
Entre os brasileiros a partir de 16 anos, 40% têm alguma aplicação financeira. A maioria (37%) coloca seu dinheiro na poupança, enquanto 7% usam planos de previdência complementar, 5% aplicam em fundos de investimentos e 2% investem em imóveis. Entre os que fazem alguma aplicação, somente 29% dizem conhecer as regras de seus investimentos.

Em média, os poupadores dizem poupar por mês R$ 341 no geral. A média do dinheiro guardado para aposentadoria é de R$ 285 ao mês. Dos que poupam com esse objetivo, 25% utilizam algum plano de previdência complementar, 59% outros tipos de aplicação financeira e 5% ambos. A poupança é a aplicação mais comum, citada por 47% dos que juntam para se aposentar.

Hoje, 7% dos brasileiros investem em planos de previdência complementar (fechados ou abertos). Esse grupo se subdivide em dois: 5% dizem fazer planos de previdência complementar para sua aposentadoria e 2% afirmam não guardar dinheiro para se aposentar. Este último subgrupo utiliza esses investimentos com outros objetivos.

Internet ou família: quem influencia mais?
A todos os entrevistados foi feita a pergunta sobre que pessoas ou entidades influenciam na sua decisão sobre o que fazer com o dinheiro. De maneira geral, o brasileiro ainda escuta mais as pessoas do seu convívio mais próximo.

A opinião do(a) companheiro(a) é a que pesa mais (54%), seguida dos filhos (34%), pais (16%) e amigos (10%). A mídia vem na sequência (4%), seguida pelos profissionais da área. Especialistas em finanças e consultores financeiros juntos representam 3%, enquanto o gerente do banco é citado por 2% das pessoas. As redes sociais são citadas por 1% dos entrevistados.

Apesar de vivermos na era da internet, a pesquisa revela que os brasileiros não usam tanto assim as ferramentas digitais para lidar com dinheiro. Entre os entrevistados, 69% têm conta em banco. Contudo, 37% dos brasileiros são bancarizados, mas não utilizam serviços bancários pela internet. Por outro lado, 32% têm conta em banco e usam a rede mundial de computadores ou aplicativos para lidar com seu dinheiro. Outros 25% não têm conta em banco, e 7% não sabem ou não responderam.

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