Não é de hoje que a AFBNB atua na busca por melhores condições de trabalho e pela dignidade laboral dos trabalhadores do BNB. Trata-se de uma luta histórica que é parte inseparável da sua ação em seus quase 40 anos de história.
Recorrentemente a AFBNB tem denunciado a situação de precarização das relações de trabalho no Banco, pauta que tem sido levada à Diretoria e demandada pela base. Tal fato tem gerado forte impacto na vida e na saúde mental dos que compõem a força de trabalho no BNB, seja pela pressão por metas, muitas vezes abusivas, ou pela falta de reconhecimento por parte de gestores, sem citar os recorrentes casos de assédio e insegurança nas diversas unidades de trabalho.
Dentro desse panorama destacamos a função de Gerente de Micro e Pequenas Empresas (MPEs), a qual possui importância estratégica na atuação do Banco junto a essas empresas, e que além de responderem pela maioria dos empregos gerados no setor privado assumem papel decisivo na mitigação do desemprego e no estímulo à atividade econômica local. No âmbito social, cumprem função ainda mais nobre, promovendo inclusão produtiva, democratizando oportunidades econômicas e, por consequência, elevando o bem-estar das famílias nordestinas – o que, aliás, está plenamente alinhado à visão institucional do BNB.
Contudo, em que pese essa relevância da função, a realidade dos trabalhadores está bem aquém daquilo que almejam. Os profissionais têm sido submetidos a uma rotina marcada por exigências incompatíveis com os recursos materiais e humanos disponíveis. Diariamente, são pressionados a cumprir metas abusivas, em um contexto que pode ser descrito por metáforas já conhecidas, como “matar mil leões por dia”, “apagar três mil focos de incêndio” ou “cobrar o escanteio e correr para cabecear”. Porém, tais expressões, longe de serem exageradas, hoje ilustram de forma fidedigna a extenuante realidade laboral enfrentada por esses trabalhadores.
Nesse sentido, diante de tal realidade, o resultado não poderia ser diferente: uma explosão de casos de depressão, ansiedade e outras manifestações psicossomáticas, males causados diretamente pelas condições precárias de trabalho impostas pelo Banco. Assim, o que deveria representar estabilidade e reconhecimento profissional, a vida profissional desses gerentes se converteu em uma experiência cotidiana de precarização e humilhação institucionalizada, evidenciando discriminação dentro das agências e Superintendências, haja vista que para terem um dia a chance de serem promovidos precisam migrar para outra carteira de crédito (de mesmo nível hierárquico), ainda que alcancem o resultado de oito estrelas de avaliação de suas carteiras (de no máximo cinco), sendo evidente que são considerados como de casta inferior dentro das agências e do Banco atualmente.
A AFBNB destaca que todos esses profissionais ingressaram através de concursos públicos, após intensa preparação, motivados pelo ideal de uma carreira sólida e promissora. No entanto, acabaram por verem suas vidas, aspirações pessoais e profissionais se afundarem em rotinas de trabalho desgastantes e insalubres, que abalam sua autoestima e comprometem gravemente sua saúde mental. Assim, observa-se de forma cristalina que iniciativas como palestras sobre bem-estar ou campanhas sobre saúde mental são insuficientes e incapazes de solucionar um problema estrutural e profundamente enraizado, haja vista que não atingem o cerne do problema, podendo até ser interpretado como tentativas de mascará-lo.
Estaria o Banco do Nordeste disposto a se equiparar, ainda que involuntariamente, a conglomerados internacionais historicamente criticados por belíssimos resultados a seus investidores, porém conseguindo isso através de práticas de trabalho abusivas? Neste contexto, impõem-se questionamentos críticos: tais condutas são compatíveis a uma instituição de desenvolvimento? Poderia o Banco do Nordeste cumprir sua missão a contento com trabalhadores fragilizados por práticas assediosas? Como o BNB pode se fortalecer diante de interesses e ameaças externas se internamente o clima organizacional enfraquece trabalhadores e a própria instituição?
A AFBNB alerta para a necessidade urgente de combater práticas que atentam contra a dignidade humana, violam direitos fundamentais e afrontam princípios basilares das relações laborais, notadamente com fulcro na função social da empresa e na sua boa-fé objetiva. Nesse sentido, seria inadmissível que o Banco do Nordeste, cuja missão é precisamente promover desenvolvimento e justiça social, negligenciasse tais preceitos em sua prática interna com seu quadro de funcionários.
É imperativo que o Banco realize uma reflexão urgente e responsável sobre o tratamento dispensado aos trabalhadores. Tal reflexão não implica comprometer a importante atuação institucional no fomento às micro e pequenas empresas; ao contrário, representa a oportunidade de conciliar eficiência operacional, respeito e responsabilidade social, garantindo espacialmente aos trabalhadores condições dignas, humanas e sustentáveis de trabalho. Somente assim os funcionários poderão continuar desempenhando suas funções com eficácia, saúde e motivação, e o Banco do Nordeste servindo de forma plena e coerente ao desenvolvimento econômico e social da população nordestina.
A Associação segue atenta e atuante para a manutenção de um ambiente favorável de trabalho e não se eximirá da luta na busca por mais dignidade e condições adequadas nas agências e centrais, seja para os Gerentes MPE e todos os que fazem o BNB: os trabalhadores.