A despeito de fatores como queda histórica da Selic, a taxa básica de juros da economia, e a concorrência das chamadas fintechs (as startups financeiras, como o Nu Bank) os três maiores bancos privados do país anunciaram crescimento nos lucros em 2019.
No caso de um deles, o Itaú, o lucro de R$ 28,363 bilhões foi o maior da história dos bancos brasileiros, de acordo com a empresa de informações financeiras Economatica. Enquanto os ganhos do Itaú cresceram 10,2% em relação a 2018, os do Bradesco, de R$ 25,9 bilhões, aumentaram 20%. Já o lucro líquido do Santander ficou em R$ 14,55 bilhões, com alta de 17%.
Apesar dos ganhos extraordinários, essas empresas demitiram funcionários e fecharam agências no ano passado, segundo o Estadão, alegando justamente a concorrência das fintechs. Mas por que os bancos seguem registrando lucros tão altos, mesmo em cenários teoricamente mais desfavoráveis, como juros baixos, crise ou aumento da concorrência?
Paulo Kliass, doutor em Economia e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, afirma que a questão de fundo é a política governamental e a fiscalização sobre o setor. O spread bancário no Brasil, por exemplo, está entre os mais altos do mundo.
Spread é a diferença entre os juros cobrados pelos bancos para emprestar dinheiro e os juros pagos como rendimento nas aplicações financeiras. Os primeiros são sempre maiores que os segundos. No ano passado, o Banco Central decidiu limitar os juros do cheque especial a 8% ao mês, o que dá cerca de 150% ao ano. No entanto, não há qualquer limite para o spread.
“Você tem uma mudança importante, a taxa de juros [básica] nunca esteve tão baixa. Mas o banco continua ganhando, não devido à taxa, mas ao spread, que continua elevado. Fora as taxas de serviço, que o Banco Central permite”, destaca o economista, lembrando que, para “compensar” os bancos pela limitação dos juros do cheque especial, o BC autorizou a cobrança de uma taxa de 0,25% sobre limites acima de R$ 500 – mesmo para quem não usa o cheque.
O economista diz que a concorrência trazida pelas fintechs é positiva, mas não resolve o problema para quem depende dos bancos e do crédito. “Há uma certa ilusão de uma suposta liberdade de mercado. Tem que ver se o sistema financeiro vai conseguir resolver o problema do risco sistêmico. Todo mundo corre para as fintechs, mas, em uma crise, elas vão conseguir se segurar? O Banco Central deveria fiscalizá-las com cuidado”, defende.
Kliass defende que o governo tome para si o papel de limitar abusos dos bancos. Além da fiscalização do Banco Central, diz, uma maneira eficaz seria limitando o spread e as taxas nos bancos públicos, Caixa e Banco do Brasil. “O ideal seria o Estado brasileiro fazer valer o seu poder através dos bancos públicos, forçando práticas mais civilizadas”.
Via Portal Vermelho