Sugestão de leitura 3 – Não há milagres sem razões | Fabio Sobral

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Por Fabio Sobral

O desempenho de uma economia depende essencialmente de quatro variáveis. São elas: o consumo efetivo das pessoas, o consumo do governo, o investimento das empresas e o saldo da balança comercial.

O consumo é uma derivação da renda. A renda no Brasil tem caído. Em 2018 o salário médio era de R$ 3.085,21. Em 2019 foi de R$ 2.975,74. Em 2020 foi de R$ 2.543,00. Em 2021 recuou para R$ 995,00. Uma tragédia. Há uma tendência para a redução dos ganhos salariais. Uma relação de causa e efeito com as reformas trabalhista e previdenciária, que provocaram a queda da renda dos domicílios brasileiros.

Não haverá recuperação da economia a partir do consumo. O setor de serviços sofrerá. Por ter concorrência intensa e não poder elevar seus preços sem perder consumidores. Os setores que têm domínio sobre seus mercados podem elevar preços e taxas de lucros com menos consumidores, tais como: automobilístico, supermercadista, distribuição de alimentos, produção e distribuição de combustíveis e gás, geração e distribuição de energia podem resistir mais tempo à crise econômica.

O consumo do governo em gastos sociais tem sido diminuído desde a implementação do “teto de gastos”, a Emenda Constitucional 95. Com a redução dos gastos do governo federal parte significativa do consumo cai. Não falamos aqui das despesas com juros e amortizações da dívida, mas de gastos com a parte social.

A queda no consumo das pessoas e do governo faz com que o investimento privado sofra restrições. Uma esperada queda do mercado consumidor não é um cenário atrativo para investimentos privados. Ou seja, a terceira variável que define a saúde de uma economia é fonte de paralisia.

A quarta variável é o saldo da balança comercial (exportações menos importações). Este tem sido positivo pelo volume crescente das compras feitas pela China ao Brasil. Porém há um enorme problema: a legislação brasileira atual permite guardar os dólares ganhos nas exportações em contas no exterior. É uma total desconexão com a economia brasileira. A única variável que seria positiva para o Brasil torna-se assim inútil.

A tendência é que a economia siga em crise. Como acreditava Spinoza, não há milagres sem razões.

Fábio Sobral é membro do Conselho editorial de A Comuna e professor de Economia Ecológica (UFC)

https://dossiersul.com.br/nao-ha-milagres-sem-razoes-fabio-sobral/

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