ula chegou, com a mala de roupinhas da criança, foi informado: “Sua mulher está morta. Seu filho também”.
Em 2003, procurei os médicos que a atenderam para uma reportagem. Um deles, Sérgio Belmiro Acquesta, gerente do departamento médico da Villares, metalúrgica onde Lula trabalhava, já tinha morrido. Ele também era legista do Instituto Médico Legal de São Paulo e chegou a ser acusado de assinar dois laudos falsos para a ditadura. O outro médico da Villares, que fez o pré-natal de Maria de Lourdes e cuidou de sua internação, disse não se lembrar dela: “Eu atendia 30 mulheres todo dia no ambulatório, mais outro tanto no hospital. Tudo isso em quatro horas”. O médico do bairro também afirmou não recordar de nada: “Atendo 30 pessoas por dia e só guardo as fichas por cinco anos”. A chefe do berçário do hospital naquele período afirmou só lembrar “de um feto morto e de uma mulher com infecção de qualquer coisa”. E explicou o porquê: “Todas elas gritam na maternidade, isso não chamava atenção. Lula não era famoso, a gente lembra do pessoal mais classificado. Pobre, sabe como é, a gente trata bem mas não tem aquela recomendação exagerada”.
Nas semanas antes de morrer, Maria de Lourdes procurou os médicos da Villares e do bairro várias vezes, queixando-se que tinha “uma fogueira no estômago”. Vomitava tudo o que comia. Ouvia deles que gravidez era assim, “dava enjoo”. Sua mãe contou que mandavam que ela caminhasse e comesse gelatina. Quando finalmente foi internada, a mãe pediu ajuda a um dos médicos, porque Maria de Lourdes estava desesperada de dor. Ele respondeu: “A senhora nunca teve um filho? Ela está com dor de parto, é normal. Está no isolamento por causa da hepatite, mas a dor é normal”. Em entrevista para a biografia Lula, o filho do Brasil, escrita por Denise Paraná, Lula disse: “Ninguém me tira da cabeça que ela morreu por negligência. Como ela morrem milhões sem atendimento neste país”.
A dor de Maria era invisível, sua voz era inaudível, e ela morreu como objeto
Maria de Lourdes era então só mais uma Maria. Que, como tantas Marias, gritava de dor. E não pertencia ao “pessoal mais classificado”. O que os relatos contam é que sua dor não seria dela, mas das mulheres, estas que têm por característica sofrer na gravidez e no parto. Uma dor tão naturalizada que a doença que a levou ao coma hepático sequer foi investigada. A ideia de que todo sofrimento é natural apagou a singularidade da sua dor e liberou os médicos de escutá-la. “Todas elas gritam” é uma frase profunda, que conta de uma história de opressão. No Ocidente, atravessada pela moral cristã que coloca na mulher o pecado original e a dor do parto como uma de suas punições, do mesmo modo que idealiza a maternidade como a vocação maior de uma mulher e a sua realização máxima. A dor de Maria de Lourdes era invisível, sua voz era inaudível. E assim ela morreu aos 22 anos. E morreu como objeto.
E Marisa, esta que morreu um mês atrás na arena pública? À primeira vista, pode-se pensar que ela foi visível. E visível até demais. Mas o excesso de exposição pode ser uma forma mais sofisticada de invisibilidade. Ao contrário de Maria de Lourdes, Marisa foi tratada num dos melhores hospitais privados do Brasil, o Sírio-Libanês, em São Paulo. E chegou até lá com esse título bastante controverso, de “ex-primeira-dama”. Primeira dama do presidente mais popular da história recente do Brasil, hoje réu da Lava Jato e alvo de ódio de uma parcela da população. Nesta condição, Marisa, que aos 66 anos sofreu um AVC e recebeu o melhor tratamento disponível, do ponto de vista técnico, também foi reduzida a objeto.
É importante lembrar. Uma médica do hospital, que depois seria demitida, vazou dados do prontuário de Marisa num grupo de médicos no WhatsApp. Ao comentar que ela ainda não tinha sido levada para a UTI, um residente em urologia de outro hospital comentou: “Ainda bem!”. E a médica respondeu com risadas. Outro médico, este neurocirurgião, escreveu: “Esses fdp vão embolizar ainda por cima”. Ele referia-se ao procedimento de provocar o fechamento de um vaso sanguíneo para diminuir o fluxo de sangue num local determinado. O médico então completou: “Tem que romper no procedimento. Daí já abre pupila. E o capeta abraça ela”.
Marisa não foi tratada como pessoa, mas como coisa, um objeto de transferência do ódio a Lula
Marisa ali não era uma pessoa em processo de morte. Mas um objeto de transferência, um repositório do ódio a Lula. E seguiria sendo mesmo após a sua morte. Os falsários de notícias disseminaram pela internet a “denúncia” de que ela não havia morrido, mas sim fugido para o exterior para não responder às acusações da Lava Jato. A morte, segundo uma das mentiras circulantes, seria uma encenação para que ela pudesse ficar impune. Apesar de toda visibilidade que o velório teve na mídia, sites de notícias falsas sustentaram que o caixão estava lacrado e chegaram a publicar uma foto de Marisa na Itália, feita em 2005, como se ela tivesse sido flagrada naquele momento. Outra variante eram as mensagens nas redes sociais que pediam a intervenção das Forças Armadas para fazer um exame de DNA no corpo. Tratava-se ali de interditar a possibilidade de identificação com Lula num momento de dor. Marisa era coisa. E, como coisa, não tinha vida nem morte. Podia ser colocada onde fosse mais conveniente. Animada artificialmente.
É preciso lembrar destas duas mulheres porque a melhor maneira de arrancar pessoas do lugar de objeto é lhes devolvendo a história. Se elas ganharam uma dimensão pública por conta da excepcionalidade do homem com quem se casaram, elas nasceram e viveram e criaram uma vida bem antes de conhecê-lo. E a complexidade do que foram impactou o homem público que Lula se tornou para muito além do que é dito e reconhecido. E, no caso de Marisa, impactou capítulos recentes da vida do Brasil, na qual ela possivelmente foi bem mais do que uma personagem secundária. Mas, quando essa narrativa está numa disputa tão feroz como a de agora, com simplificações de parte a parte na qual se busca o que melhor sirva a um propósito, a complexidade se perde. E assim perdemos todos.
Há algo de trágico na morte de Maria e de Marisa, mas esta tragédia diz respeito menos a elas e mais ao que somos e ao que nos tornamos como sociedade. É preciso lembrar antes que nossa vida de espasmo em espasmo apague a extrema gravidade do que foi exposto. E do que segue em vigor. É preciso fazer memória para resistir ao apagamento. E resistir à normalização do ódio.
Maria de Lourdes pertencia ao vasto grupo dos morríveis – e dos matáveis. Seu sofrimento não produzia escuta, sua morte era um nada. Para além da dor daqueles que a amavam, uma mulher de 22 anos morrer por “provável hepatite” quando estava grávida não produzia espanto, só indiferença. Sua morte não produziu nem mesmo uma marca na memória dos que dela deveriam ter cuidado.
Enquanto a morte de Maria nada moveu, porque ela morreu “no seu lugar”, a de Marisa gerou ódio porque ela ousou mudar de lugar
Já Marisa, com a ascensão política de Lula, deixou o grupo dos que podem morrer sem causar alarde, mas as mensagens nas redes sociais mostram que para muitos ela não deveria estar no Sírio-Libanês. O hospital dos mais ricos não era o lugar dela. Enquanto a morte de Maria nada move, porque ela morreu “no seu lugar”, o tratamento de ponta dispensado à Marisa gera ódio, porque ela ousou mudar de lugar. Colocou-se no lugar do “pessoal mais classificado”, lembrando as palavras que a enfermeira usou para explicar por que as mulheres pobres não recebiam uma “recomendação exagerada”. Ao fazê-lo, quebrou a hierarquia de classes. E foi vítima de ódio.
Mas até mesmo no ódio Marisa é objetificada. Porque o ódio é para ele, e não para ela. Seu corpo que morre é apenas o objeto transferencial do ódio destinado ao seu marido. O que médicos fizeram no WhatsApp e o que os falsários de notícias fizeram na internet são uma demonstração de que todos os limites foram rompidos. Se resta algo do que se pode chamar, na falta de palavra melhor, de pacto civilizatório, é talvez uma última trama bem esgarçada. Somos uma sociedade de linchadores, movida pela vontade de destruição do outro. Não há mais espaço para adversários, só existem inimigos.
Aqueles que gozam com a desumanização do outro, não entenderam que na barbárie não se salva ninguém
Aqueles que gozam com a desumanização do outro – distorcem, mentem, manipulam – talvez não tenham entendido que na barbárie não se salva ninguém. Acreditam estar apenas jogando seus jogos pueris, exibindo-se para a turma, como os médicos no WhatsApp, mas não compreenderam que o fio sobre o qual se equilibram se desfaz. Quando se presta atenção ao discurso dessas mensagens, neste e em outros casos, percebe-se que contêm uma crueldade, sim, mas infantilizada. São adultos infantilizados. E isso também é bastante perigoso, porque neste lugar não há responsabilização.
Maria e Marisa viveram existências duras, vidas de mulheres pobres. Maria de Lourdes migrou de Minas Gerais com a família. O pai era um agricultor doente dos pulmões. Seu primeiro sapato foi comprado pouco antes de pegarem o trem para São Paulo. Na primeira noite na cidade, ela teve febre. A família conta que o pai colocou os filhos nas filas que encontrou na Estação da Luz, pensando que era comida. Mas era vacina, e o braço da pequena Maria, com três anos, inchou.
Anos depois, as famílias dela e de Lula seriam vizinhas, e ela dizia ter pena “do moço que tinha perdido um dedo”. Desde os 16 anos, Maria de Lourdes trabalhava como operária numa tecelagem. Levou uma semana para aceitar o pedido de namoro feito num bailinho. Quando pouco antes de se casarem Lula anunciou que pensava em participar da chapa do sindicato, ela foi se aconselhar com os patrões. Ouviu deles que era perigoso, “encrenca certa com a polícia”. Lula discordou.
A melhor maneira de arrancar pessoas do lugar de objeto é devolvendo-lhes a história
Filha de um agricultor e de uma benzedeira, Marisa começou a trabalhar aos 9 anos como babá. Aos 13, embalava bombons numa fábrica. Seu primeiro marido dirigia um táxi quando foi assassinado num assalto. Marisa estava grávida do primeiro filho. Quando conheceu Lula, ela vivia um momento de extrema dificuldade. O episódio é romantizado porque virou uma história de amor, mas ele revela bastante sobre o machismo vigente e generalizado do movimento sindical da época. Lula havia deixado a ordem de que, quando aparecesse uma “viuvinha nova, bonita”, que o chamassem. Marisa precisava “pegar o carimbo” para poder liberar a pensão do marido. Mas como Lula queria sair com ela, fez com que voltasse ao sindicato várias vezes alegando que a lei tinha mudado. Depois, chantageou-a para conseguir seu telefone.
Marisa tinha personalidade forte e muita influência sobre Lula. Não era de medir palavras. Mas na campanha de 2002 e, durante todo o seu período como primeira-dama, foi blindada. Dela, quase nada se sabe além do que se considerou conveniente falar sobre sua vida. Na quarta campanha presidencial, a que Lula finalmente venceu pela primeira vez, ela cumpria os compromissos públicos com as mãos visivelmente trêmulas e enorme timidez. Em geral acompanhada pelo filho Fábio Luís, o Lulinha. Tinha então uma explicação recorrente, talvez orientada por um marqueteiro: “Não estou nervosa, estou emocionada”.
Dela se contava uma história que ecoa a do triplex do Guarujá, esta última ainda sem conclusão. Em 1989, quando Lula disputou sua primeira eleição para presidente, foram plantados vários boatos de que ele tinha uma mansão no Morumbi, então o bairro que mais representava uma ostentação emergente. Marisa teria pegado um táxi e ouvido essa história do motorista. Pediu então que ele a levasse até a casa chique de Lula. O motorista recuou. Ela então teria dito: “Ah, que pena. Eu sou a mulher do Lula e queria tomar posse do que é meu”. Quando conheceu Brasília, em 1980, e botou os olhos nas mansões do Lago Paranoá, Marisa vaticinou: “Esses caras não vão deixar você chegar ao poder nunca. Fazem qualquer coisa, mas não abandonam essa vida”.
Enquanto crescia a expressão pública de Lula, Marisa foi se tornando para o público a mulher muda. Aquela que só falava da porta da casa (ou do Alvorada) para dentro, a que reinava no mundo doméstico, aquele que seria invadido pela Polícia Federal um ano atrás para a “condução coercitiva” de Lula. O momento em que o Brasil mais ouviu a sua voz foi justamente num episódio de violação de seus direitos, quando uma conversa grampeada pela Polícia Federal vazou. Marisa conversava com o filho Fábio Luís sobre um panelaço contra o PT e desabafou: “Deviam enfiar essas panelas no cu!”. A frase ganhou chamadas na imprensa, o áudio foi para o YouTube. Seria interessante saber daqueles que se escandalizaram quantos não disseram algo semelhante numa conversa privada. E como se sentiriam se suas conversas privadas com familiares fossem expostas publicamente.
Quando Marisa morreu, seu obituário foi composto por fragmentos pinçados da vida de uma mulher lançada na arena pública, mas que o público pouco conhece de fato. “Costurou a estrela da primeira bandeira do PT”, “primeira-dama de perfil discreto”, “foi criticada quando plantou um canteiro de flores vermelhas em formato de estrela no jardim do Alvorada”. Neste momento de intensa disputa, só se conhece de Marisa o que convém de um lado e outro. E com isso se perde sua complexidade, mas também o pedaço da história que ela testemunhou, assim como o seu real papel nela.
Maria e Marisa tiveram despedidas muito diferentes. Maria de Lourdes foi velada em casa. A certa altura sua mãe passou mal. O médico do bairro foi chamado. Ela rasgou a camisa dele com as unhas em desespero. Era uma casa pobre, precária, em reformas para abrigar o quarto do bebê que chegaria em breve. Numa daquelas cenas em que a realidade supera a ficção, o peso do caixão fez com que o assoalho afundasse. Parecia realismo mágico, mas era vida.
A indiferença reservada à Maria, o nada de sua morte, segue em vigor. E o ódio reservado à Marisa mostra que pioramos
Marisa teve um caixão vistoso, reverenciado por milhares no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo. Na parede, uma ampliação gigante de uma fotografia dela com Lula. Havia pessoas ilustres e discursos inflamados. Enquanto isso, na internet, os falsários de notícias espalhavam que ela estava na Europa. O ódio era tanto que era preciso transformá-la numa morta viva para que pudessem continuar destruindo-a. E assim forjou-se uma cena em que a realidade supera a ficção, mas de uma forma perversa, já que se cria uma mentira (o que é bem diferente da ficção) para colocar no lugar da realidade.
São despedidas tão diferentes, a de Maria e Marisa. Mas ambas seguem invisíveis. A tragédia maior, a que vai muito além destas duas mulheres, é que a indiferença reservada à Maria, o nada de sua morte, segue em vigor. E o ódio reservado à Marisa mostra que pioramos.
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A greve internacional de mulheres reivindica a potência de criar um novo pacto
É importante perceber onde hoje existe potência. E especialmente a potência de criar pactos que permitam recriar os laços sociais. Prepara-se para esta quarta-feira, 8 de Março, uma greve internacional de mulheres, organizada por ativistas de mais de 40 países. O movimento surgiu a partir das greves feitas na Polônia e na Argentina no ano passado (escrevo sobre elas aqui) e também a partir da marcha das mulheres contra Trump, nos Estados Unidos, assim como outras manifestações pelo mundo. Os manifestos e convocatórias propõem um novo ciclo do feminismo, capaz de articular várias lutas. Esta agenda expandida é a parte mais interessante: as mulheres na produção, no trabalho remunerado, reivindicando melhores condições de trabalho e salários equivalentes, mas as mulheres também no trabalho não remunerado dentro de casa e no trabalho da reprodução, reivindicando direitos reprodutivos; as mulheres contra o feminicídio, contra a violência doméstica, contra o estupro e outras violências de gênero, mas também um feminismo contra o racismo, a xenofobia, a homofobia e a transfobia. É também uma posição contra “o ataque neoliberal em curso sobre os direitos sociais e trabalhistas”, como diz o manifesto assinado por intelectuais americanas, entre elas Angela Davis. A internacionalização da greve é geográfica, mas também simbólica: ela supera as fronteiras ao propor um feminismo atravessado por todas as questões cruciais deste tempo. Assim, as convocatórias estão chamando todas as mulheres, o que significa incluir também as mulheres trans. No Brasil, onde há articulações significativas em algumas cidades e quase inexistentes em outras, é forte a oposição à reforma da previdência proposta pelo governo Temer, já que ela poderá ter grande impacto sobre todos e especialmente sobre as mulheres mais pobres, a maioria delas negras. Mas, como qualquer movimento que pretenda ganhar as ruas, o que de fato acontecerá neste 8 de março é uma incógnita. Ni Una Menos, o mote da greve argentina, se expandiu pelo mundo. Nem uma a menos é um pacto de vida. É também um pacto contra o ódio.
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A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie escreveu um pequeno livro-manifesto chamado Para educar crianças feministas (Companhia das Letras). O livro, que chega nesta terça-feira (7/3) às livrarias do Brasil e do mundo, é escrito na forma de uma carta a uma amiga, mãe de uma menina, mas tudo o que ela diz obviamente vale para crianças de qualquer gênero. A escritora deixa claro o que entende por feminismo: “Ser feminista é como estar grávida. Ou se é ou não se é. Ou você acredita na plena igualdade entre homens e mulheres. Ou não”. Ela dá 15 sugestões para criar uma criança feminista. E talvez a mais transgressora delas, nestes tempos em que a ignorância se tornou popular, seja a quinta: “Ensine-lhe o gosto pelos livros. (…) Os livros vão ajudá-la a entender e questionar o mundo, vão ajudá-la a se expressar, vão ajudá-la em tudo o que ela quiser ser”.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes – o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum
Source: SAIU NA IMPRENSA – 600