Artigo – O ódio conservador é uma ânsia de destruição

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Por Mauricio Falavigna

Rage, rage against the dying of the light
(Dylan Thomas)

Um estado permanente de guerra. Guerras internas e externas. Entre atitudes, medidas e comportamentos aparentemente irracionais, alguns anunciados de antemão na campanha, o cenário brasileiro é entremeado de provocações, de ameaças que não irão se realizar — mas que reafirmam a todos o espírito que move este governo, a marca destrutiva que traz satisfação a seus apoiadores.

Exemplos não faltam. O aborto em uma criança de dez anos pode ser aprovado pela Justiça, mas até o último momento a alcateia continuará perseguindo sua presa. Assentamentos podem ser legalizados, mas continuarão sob a mira de botas e fuzis do Exército. O Fundeb não será desfalcado pelo Renda Cidadã, mas a intenção de sangramento se fez ecoar com coerência e escárnio. E outras formas de punhalada estarão sempre sendo maquinadas. Afinal, o presidente pode até virar réu, mas passará finais de semana abraçado ao juiz. As ameaças estão nas aparências e nos fatos, provocando uma guerra perene com a parte indesejada da sociedade.

O governo atual, que vem minando de todas as formas a educação pública, já tentou anteriormente retirar valores do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica. Se as universidades públicas são atacadas ideologicamente, o principal instrumento de financiamento da educação básica no Brasil é um alvo mais importante. Contra as primeiras pesa uma disputa de valores e discursos (“Um bom conhecimento da Bíblia vale mais do que uma educação superior”, já lembrava Theodore Roosevelt). Mas o Fundeb é um instrumento de facilitação do acesso, de resistência no combate à desigualdade social – mais natural e divina do que as outras diferenças entre os seres humanos.

Não poderia ficar imune às intenções dos capitães da guerra. Segundo o DIEESE, o Fundeb garante mais de 90% das matrículas da educação básica. Cerca de 20 milhões de alunos. O butim é imenso para a manutenção do status quo socioeconômico. Não passará desta vez, eles sabem, mas continuarão com os gritos de guerra e as espadas suspensas sobre o Fundo. Como diria Bannon, “aquela determinação, aquela tenacidade que nós vimos nos campos de batalha ainda estão aqui (…)”.

A guerra anunciada é contra a degeneração de valores e a corrupção (moral, como eles gostam de apresentar a ideia), valorizando a iniciativa individual, a lei da selva (ou dos ricos) e o predomínio dos superiores, predestinados. Estamos nos habituando a citar a guerra híbrida, mas chegamos muito próximos do cientificismo e da eugenia do século XIX. O império da liberdade almejado pelos nossos algozes, assim como a sobrevivência do sonho selvagem capitalista, depende da guerra permanente.

Os riscos são só nossos. Só um lado aceita e se dispõe a todas as facetas da guerra, incluindo a desrazão e a violência. O restante carregará o orgulho da razão até o apagar das luzes. Poucos morrerão gritando.

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