Um contingente de 3,3 milhões de brasileiros estão desempregados há pelo menos 2 anos. Só no primeiro trimestre de 2019, o percentual de desocupados nessa situação era de 24,8%, um crescimento de mais de sete pontos em relação a igual período de 2015 (17,4%). O índice é ainda maior entre as mulheres (28,8%), entre os adultos com mais de 40 anos (27,%) e entre os trabalhadores com ensino médio completo (27,4%).
Os dados sobre mercado de trabalho no primeiro trimestre foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD/IBGE) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Segundo o Ipea, a crise econômica mantém a taxa de desemprego elevada e também contribui para permanência no desemprego. De acordo com o PNAD, a desocupação ficou em 12,7% no período, menos 0,4 pontos percentuais em comparação ao ano passado.
O panorama do emprego no Brasil continua dependendo do mercado informal. Porém, a taxa de crescimento anual, considerando-se apenas trabalhadores com carteira assinada, permanece negativa e com variação quase nula. O estudo também registra um movimento transitório favorável ao emprego formal, compreendido como sazonal nos primeiros meses. Nesse sentido, a participação de trabalhadores que contribuem para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) voltou a subir.
“Ao examinarmos os demais destinos possíveis para um trabalhador que deixa um emprego formal, há um aumento no primeiro trimestre de 2019 para as transições que têm como destino tanto o desemprego como a inatividade”, diz a Carta de Conjuntura do Ipea. As regiões Norte e Nordeste apresentam parcelas ainda maiores que a média nacional de desempregados há pelo menos dois anos, de 28,6% e 27,6%, respectivamente.
Enquanto os chefes de família mais pobres registraram estagnação na renda, as classes mais altas permaneceram com renda domiciliar trinta vezes maior que as baixas. Chama atenção um aumento significativo de famílias que declararam não possuir renda do trabalho (22,71%). A proporção de domicílios com renda muito baixa somam 29,82%.
Desocupação
A pesquisa do Ipea alerta para o avanço preocupante da permanência no desemprego, principalmente entre jovens. “A situação dos jovens inspira atenção, dada as evidências disponíveis na literatura sobre o prejuízo que uma passagem pelo desemprego no início da carreira profissional traz para sua trajetória, mesmo no médio e longo prazo”.
No cenário de “desalentados” há pelo menos dois anos, trabalhadores de 18 a 24 anos estão entre os grupos mais atingidos. “Desalentados”, para esse tipo de classificação, são pessoas que deixaram de procurar emprego porque já não acreditam que irão conseguir.
Com baixo crescimento da ocupação e queda no rendimento real, os jovens configuram 27,3% do total de desempregados. Pelo quinto trimestre consecutivo, os mais jovens e com ensino fundamental incompleto tiveram a maior queda de rendimento (-2,4%).
Os motivos associados ao desalento podem ser referentes à falta de experiência profissional ou qualificação, ausência de trabalho na região, ser considerado muito jovem ou idoso, e não conseguir trabalho adequado.
O Ipea também faz uma análise sobre os efeitos da reforma trabalhista, identificando o perfil das vagas de trabalho no mercado formal. Segundo o Caged, de novembro de 2017 a abril de 2019, foram abertas 507.140 novas vagas de trabalho, das quais 58.630 de contratos de trabalho intermitente, quando a empresa paga por hora trabalhada, e 19.765 de trabalho parcial, em sua maioria no setor de comércio e serviços.
Apesar da geração de emprego, os dados mostram que cerca de 7 milhões faziam parte da população de trabalhadores que se ocupam menos de quarenta horas semanais. A chamada subocupação por insuficiência de horas trabalhadas combinada com a desocupação atingiu em abril deste ano 19,1%, índice acima dos três anos anteriores.
Das vagas de emprego intermitentes e parciais, a maioria foi ocupada por jovens de até 29 anos e trabalhadores com ensino médio completo. “O mercado de trabalho brasileiro segue bastante deteriorado, permeado por altos contingentes de desocupados, desalentados e subocupados”, conclui .
Edição: João Paulo Soares