Desinformação: quando a pessoa cai nas ‘fake news’, é difícil trazê-la de volta

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Para o pesquisador Atila Iamarino, acesso à educação pode ajudar a vacinar a sociedade contra os vírus da desinformação e das notícias falsas

“Hoje a informação está no celular. É preciso ensinar o aluno a pesquisar. Depois da educação, vem o acesso à informação”, disse Atila Iamarino

São Paulo – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu, nesta segunda-feira (29), a segunda live da série “Diálogos Democráticos”. O encontro teve a mediação do presidente da corte, ministro Luís Roberto Barroso. Participaram a jornalista Cristina Tardáguila, da Agência Lupa, o biólogo e youtuber Atila Iamarino e o deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES), um dos autores de projeto de lei de combate à desinformação na internet. O tema foi “Desinformação – o desafio das fake news”.

Os debatedores destacaram a importância do tema num momento de pandemia e crise sanitária, e foram unânimes em classificar a educação como fundamental para o combate às fake news. A tecnologia, nesse caso, pode ser uma aliada, observou Iamarino. “Hoje a informação está no celular. É preciso ensinar o aluno a pesquisar (em busca de informação confiável). Depois da educação, vem o acesso à informação”, disse Iamarino. A questão de educação é urgente”, resumiu Cristina.

O biólogo destacou a importância do WhatsApp na disseminação de notícias falsas, já que, para importante parcela da população com baixo poder aquisitivo, que tem pacote básico de internet, é o único meio de acesso à informação. “Quando a pessoa se convence, é difícil trazê-la de volta.”

“Além de educação, talvez seja preciso uma educação específica”, observou o ministro Barroso. Isso porque, para ele, o Reino Unido, que tem educação de alta qualidade, mesmo assim foi levado ao Brexit em grande parte influenciado pelas fake news. Em países menos desenvolvidos, como o Irã, centenas de pessoas morreram por ingerir etanol, na crença em “notícias” de que o produto combatia o vírus.

Reprodução
“A questão de educação é urgente”, disse Cristina Tardáguila, da Agência Lupa

Boas intenções…

Segundo Iamarino, há as notícias falsas que são disseminadas ou parecem surgir de pessoas cuja intenção é apenas ajudar.

“São notícias falsas espontâneas. Mas há as que são ataques, como as que espalham campanhas de retomada de atividade econômicas (em meio à crise sanitária) contra precauções médicas.” Essas fake news são semelhantes a campanhas contra as vacinas e, como as que negam o aquecimento global, por exemplo, ou que procuram desmentir a ciência.

Tais campanhas são promovidas por quem “quer manter o status quo”, como é o caso de divulgar que as pessoas têm que voltar às ruas em meio à quarentena. Iamarino observou que, nos Estados Unidos, uma campanha combate o uso de máscaras, que, segundo as notícias falsas, não teriam função.

O biólogo disse que um levantamento que ele e colaboradores fizeram para apurar “as 10 mais” entre as fake news, muitas usavam o nome de autoridades, médicos ou instituições. É o caso do incentivo a atitudes não científicas contra o vírus, contrárias a soluções sanitárias: gargarejar ou usar antissépticos, por exemplo.

Engajamento

Cristina Tardáguila, da Lupa, destacou os inúmeros boatos sobre as origens do vírus Sars-Cov 2, como o de que teria se originado de uma “sopa de morcego”. Ou que Bill Gates “está por trás de tudo”. Até mesmo vídeos de pessoas de repente caindo na rua, como se a covid-19 provocasse uma “morte súbita”.

Outras notícias falsas vão da sinofobia (ódio aos chineses), como a “informação” de que a China tinha um plano de queimar os doentes, ao mito de supremacia racial, como o de que o sangue de pessoas negras não pega covid. O “engajamento” na propagação de falsidades torna comum o uso de nomes de políticos para dar credibilidade à desinformação.

Segundo Cristina, esses boatos são comuns a quase todos os países. No Brasil, há algumas especificidades que não viu em outros lugares, como a onda que espalhou as imagens de caixões e hospitais vazios, para disseminar a ideia de que não há epidemia.

Organizações criminosas

Na opinião do deputado Felipe Rigoni, os efeitos das fake news devem ser “mitigados” por meio de três eixos. O primeiro é o combate às organizações criminosas que produzem notícias falsas e as disseminam profissionalmente – e devem ser enquadradas na legislação penal.

O segundo, “mitigar” as ferramentas, como os robôs que são usados para dar velocidade às fake news, além das contas falsas. Algumas plataformas, como Facebook e YouTube, têm plenas condições técnicas para combater robôs, marcar postagens consideradas falsas ou mesmo derrubá-las. O terceiro eixo, de acordo com Rigoni, “é combater a desinformação com mais informação”.

No Brasil, o próprio presidente da República teve postagens apagadas pelas plataformas Twitter, Facebook e Instagram. O Facebook, por exemplo, tirou do ar um post do chefe do governo por considerar que era “desinformação” e poderia “causar danos reais às pessoas”.

Tratava-se de um dos vídeos de passeio dominical do presidente no Distrito Federal em 29 de março, provocando aglomeração, contra as orientações do seu próprio ministro da Saúde, na época Luiz Henrique Mandetta.

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