Nível da pandemia no Brasil nunca deixou de ser elevado, adverte sanitarista

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Pesquisadora da Fiocruz destaca alta na média diária de mortes no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. E alerta que aceleração já está repercutindo nas unidades hospitalares

Incremento atual da primeira onda da pandemia pode ser muito pior em termos de lotação dos hospitais

São Paulo – A alta no nível da pandemia no país, com aceleração de novos casos e mortes pela covid-19, está repercutindo na ocupação de unidades hospitalares. O alerta é da médica sanitarista, presidenta do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), Lúcia Souto, que é também pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em entrevista a Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, a sanitarista observa com preocupação a aceleração da pandemia nas regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país.

Dados das secretarias estaduais apontam para uma tendência de alta de 63% na média diária de mortes no Centro-Oeste. Enquanto que na região Sudeste há 77% de elevação. Uma alta que segue também no Sul, com 53%. Nesse momento, de acordo com Lúcia, o país faz uma “manutenção da primeira onda” de casos do novo coronavírus.

Apesar da queda até 14 dias atrás, os números diários de casos e mortes foram reduzidos, mas ainda dentro de um nível muito alto. “Os níveis, os patamares da pandemia no Brasil, nunca deixaram de ser muito elevados”, explica. O fato, destaca a presidenta do Cebes, é que a curva da pandemia voltou a crescer ainda mais. Nesta quarta (19), quando o país registrou 167.455 vidas perdidas, a taxa de ocupação de leitos públicos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) já era superior a 80% na cidade do Rio de Janeiro.

Sem hospitais de campanha

Reportagem da RBA mostrou que de todos os leitos destinados à covid-19 na capital fluminense, 90% deles estão ocupados. Já o município de São Paulo tem mais de 400 pessoas em UTI com a infecção. O maior número em 30 dias.

No início da pandemia, em março, diversos estados construíram hospitais de campanha para suprir a necessidade de leitos. Mas, poucos mais de cinco meses depois, a estrutura já era desmontada. O que agora preocupa a pesquisadora da Fiocruz. Segundo Lúcia, à época, diversas entidades de saúde coletiva alertaram que era preciso aplicar os recursos nos hospitais públicos já existentes. Sem esses investimentos e, atualmente, sem os hospitais de campanha, o incremento atual da primeira onda da pandemia pode ser muito pior em termos de lotação das UTIs e dos hospitais públicos e privados.

“É uma situação que precisamos resolver com urgência. A pandemia precisa ser controlada no Brasil, é preciso dar robustez ao sistema público, financiá-lo à altura dos desafios que estão colocados. Isso significa que não é possível aceitar o desfinanciamento proposto pela Lei de Diretrizes Orçamentárias que o governo Bolsonaro encaminhou ao Congresso e que retira quase R$ 40 bilhões do SUS para 2021. Isso é inaceitável”, contesta a presidenta do Cebes.

Isolamento social 

Além disso, a sanitarista acrescenta sua preocupação com a medidas de prevenção, como o uso de máscara, distanciamento social, que parte da população vem deixando de adotar. “O Brasil precisa se unir para combater o vírus. Mas no lugar disso a gente está vendo a provocação da desunião do país e de um estado de confusão que ninguém sabe o que fazer”, afirma, em referência à postura do presidente Jair Bolsonaro.

Ontem, o Ministério da Saúde fez uma publicação no Twitter defendendo o isolamento social, mas logo depois apagou a postagem. O texto ainda reconhecia a inexistência de remédios de prevenção ou combate à covid-19, contrariando os reiterados discursos de Bolsonaro. “É grave, a situação merece muita atenção de todos nós”, adverte a sanitarista.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima

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