O discreto rombo da Americanas e os panos quentes da mídia e do mercado

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Auditados nos últimos anos por empresas conceituadas no ramo, como PwC e KPMG, os balanços da Americanas deveriam estar nos trinques, à prova de rombo. Mas a empresa acabou confirmando neste sábado (13) que “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões reveladas durante a semana podem levar a um endividamento de R$ 40 bilhões. A informação está em CartaCapital.

Tudo isso numa companhia que declara ter em caixa R$ 8 bilhões e cujas lojas apresentam um patrimônio de R$ 14 bilhões. Preocupada em patrulhar os planos do governo Lula para a economia estralhaçado do Brasil, a dupla mídia & mercado não fez grande alarde para um escândalo que põe em xeque a credibilidade do mercado de capitais e dos próprios mandamentos do capitalismo.

Desse modo, no “fato relevante” publicado, a Americanas admite que as “inconsistências” contábeis mexerão com os resultados mostrados em anos anteriores. Com “alteração do grau de endividamento da empresa e/ou volume de capital de giro, acarretando o vencimento antecipado e imediato de dívidas em montante aproximado de R$ 40 bilhões”.

Em razão do rombo, a Americanas vai precisar captar recursos no mercado, porque terá de recalcular seu patrimônio líquido de pelo menos os últimos dois anos. A afirmação foi do próprio executivo Sérgio Rial, ao anunciar sua renúncia ao posto de CEO da companhia na última quarta, depois de permanecer breves nove dias no posto.

Falta de clareza

“Além do valor do rombo, que é o dobro do que havia se calculado inicialmente, um outro ponto intriga o mercado: diretores da companhia venderam mais de R$ 210 milhões em ações da empresa há alguns meses. Segundo economistas, a falta de clareza sobre este fato causa estranheza no mercado e suspeitas se alguns membros já estavam cientes das inconsistências e tiveram acesso à informações privilegiadas”, diz a revista.

Para se ter ideia, a queda de 80% nas ações da Americana levou o bilionário Jorge Paulo Lemann a perder US$ 329 milhões de seu tesouro de US$ 15,4 bilhões. Imagine como estarão os nervos dos pequenos acionistas.

Além disso, ao estrear nesta segunda-feira, o BBB23 deve sentir a falta de uma de suas maiores anunciantes, com cota estimada em R$ 105 milhões. Para não ficar fora do coliseu do século 21, o setor de comércio eletrônico deve ser substituído pelo Mercado Livre.

Com ficarão clientes, fornecedores, funcionários e pequenos acionistas, não se sabe. Também não se sabe como teria agido a mídia comercial, recebedora de forte patrocínio da Americanas, se o escândalo fosse em em outras empresas de capital aberto mas de controle público, como Banco do Brasil ou Petrobras.

Mas é possível presumir: seus colunistas estariam listando bilhões de razões para a transferência total do controle ao capital privado. E que a privatização seria o único remédio para tirar do Estado o papel de se meter na economia – deixem que o mercado toma conta. Afinal, o que é uma inconsistência contábil de R$ 20 (ou 40) bilhões?

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