Por Cleyton Monte – Cientista político, professor universitário e pesquisador do LEPeM
Pesquisas dão conta do cenário de desigualdade social radical no Ceará. Em 2020, ao mesmo tempo em que temos, segundo a Fundação Getúlio Vargas, 44,5% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, ostentamos, de acordo com revista Forbes, o primeiro
lugar do Nordeste em número de bilionários. São 4 milhões de cearenses em situação de insegurança alimentar e 17 super-ricos investindo na Bolsa de Valores.
A Região Metropolitana de Fortaleza, com 32,7% dos domicílios sobrevivendo com renda familiar de apenas um quarto do salário mínimo (R$ 275), bate recorde na compra
de carros importados. A pandemia aprofundou o abismo social. O que isso quer dizer? Quais as causas e impactos de tamanha barbárie?
É fato, como bem disse Marx, que o capitalismo é uma máquina de produzir múltiplas desigualdades, contudo, algumas paisagens sociais oferecem marcas ainda mais devastadoras dessa situação. O Ceará é o retrato de condições estruturais
de marginalização da maioria da sua população.
Nossa história revela um passado atravessado por omissões e violências por parte do poder público. Não apenas isso. Temos um empresariado que, apesar de ser reconhecido nacionalmente por sua inovação, não se volta para a redução do fosso social gigantesco. Apesar dos avanços na última década, os governos locais não possuem margem econômica para transformar a pirâmide social. O governo federal, responsável pela coordenação e planejamento de políticas sociais e projetos de desenvolvimento, deixou de
observar tais questões. Os cearenses convivem diariamente com a face da
pobreza e, muitas vezes, desconhecem os passos dos multimilionários, aguardando uma vida menos árdua.
São dados que representam um fracasso social, verdadeira tragédia moral. Não é possível criar valores ou sonhos em meio a desequilíbrios tão graves. Precisamos de uma nova agenda pública para pensar alternativas. Não é possível que esse dilema fique de fora das eleições de 2022. Temos peças de planejamento interessantes, tais como o “Ceará
2050” e mudanças sensíveis na estrutura industrial.
É necessário qualificar o jovem para o mundo globalizado, atrair empresas sustentáveis, investir em práticas inovadoras, pensar seriamente em modelos econômicos
solidários, além de atender as famílias mais vulneráveis. Urgências do nosso tempo!