Pandemia é ‘7 a 1’ na saúde do Brasil, diz sanitarista

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Médica e docente Karina Calife calcula que são 21 novos casos a cada 100 mil habitantes no país, enquanto média mundial fica em torno de 3,3 novas infecções por 100 mil habitantes

São Paulo – O Brasil chegou neste domingo (16) a um total de 107.852 vidas perdidas e 3.340.197 casos de covid-19. De acordo com boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), foram registrados 620 óbitos em decorrência do novo coronavírus em 24 horas. E mais 23.101 novos casos de contaminação no país entre sábado (15) e domingo.

A média de mortos do país nos últimos sete dias, segundo o consórcio de veículos, está em 963 óbitos. O que confirma uma estabilidade, mas em atamar muito elevado. Ao mesmo tempo, estados e cidades vêm avançando nos planos de flexibilização das medidas de isolamento social. Neste final de semana, diversas reportagens flagraram bares lotados e aglomerações em bairros de capitais como São Paulo, Recife, Vitória e Rio de Janeiro. No entanto, autoridades e instituições alertam que os números reais de casos e mortes pode ser muito maior do que o registrado oficialmente.

É o que observa a médica sanitarista Karina Calife, docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, em entrevista às jornalistas Talita Galli e Ana Flávia Quitério, no programa Brasil TVTA especialista calcula que o país teria hoje uma média de 21 novos casos por dia a cada 100 mil habitantes, o que daria em torno de 40 mil a 50 mil novas infecções diárias.

Pouca testagem

Com uma testagem “muito aquém” do necessário, assim como a falta de acompanhamento de casos positivos para a doença e do rastreamento dos contatos e imposição da quarentena, Karina ressalta que o Brasil só poderia pensar numa reabertura quando apenas um caso novo fosse identificado por 100 mil habitantes. As métricas, contudo, variam de país para país, mas ainda são bem mais baixas do que no Brasil. De acordo com a docente, nos Estados Unidos, por exemplo, o parâmetro é de cinco novos casos de covid-19 a cada 100 mil habitantes. Pelo mundo, a flexibilização ainda leva em conta uma taxa bem mais baixa, são 3,3 novas infecções a cada 100 mil habitantes.

“Ou seja, a gente está completamente fora, o pessoal tem chamado de 7 a 1. Estamos com sete vezes mais casos novos por dia do que a média mundial”, compara Karina.

Já a taxa de mortalidade, segundo o Conass, seria de 51,3 atualmente. O número também impressiona na comparação com os demais países. É bem mais alto do que na Argentina (12,67), que registrou a doença apenas nove dias após o Brasil, e o Uruguai (1,10). A cifra só fica mais alta onde os primeiros casos do novo coronavírus foram registrados bem antes, como Reino Unido (70,37) e Bélgica (86,98).

Falta de gestão atrapalha até a vacina

A situação preocupa ainda, segundo a médica sanitarista, pela falta de comando do governo federal. O que também pode implicar em dificuldades para a distribuição da vacina. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) deu um prazo de 15 dias para que o governo Bolsonaro apresente um plano de distribuição da imunização. A jornalista Mônica Bergamo chegou a revelar, em sua coluna na Folha de S. Paulo, o risco de que poderia faltar agulha para a aplicação de uma possível injeção.

Hoje, de acordo com a docente, as vacinas de Oxford e do laboratório chinês Sinovac Life Sciencesão as mais promissoras desenvolvidas no Brasil. E a expectativa é de que nos próximos dois a três meses resultados positivos da chamada fase 3 sejam confirmados. Há ainda a possibilidade da vacina russa, anunciada na semana passada. Na falta de publicações sobre as etapas e segurança dos estudos, é mais difícil que ela seja distribuída de modo mais veloz que as demais, na avaliação da docente. De toda a forma, será fundamental ter um plano sobre como a imunização será oferecida à população.

“Para isso vamos ter que contar com o nosso Sistema Único de Saúde. Com a logística do SUS, com a distribuição do ponto de vista equânime, que chegue para todas as pessoas que realmente precisem. E a gente tem um governo que usou algo como 30% daquele recurso emergencial destinado para o combate ao coronavírus. O que é muito triste porque temos coisas que poderiam ter sido feitas antes de chegar na condição que está. E muita coisa que a gente ainda pode fazer agora”, adverte Karina.

Assista à entrevista na íntegra

Redação: Clara AssunçãoEdição: Glauco Faria

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