Para enfrentar a covid-19 é preciso combater a desigualdade, afirma Chioro

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Estudos mostram que doença é mais letal entre negros e pobres. Trabalhos essenciais e diferenças socioeconômicas estão na base da vulnerabilidade

Estudos científicos no Brasil e no exterior apontam as profundas desigualdades socioeconômicas e étnico-raciais relacionadas aos riscos de infecção

São Paulo – A população negra, que há décadas sofre para conseguir igualdade de direitos e oportunidades, luta agora contra um agente invisível, o coronavírus. A doença causada pelo vírus tem se mostrado mais letal entre entre negros em diversos países.

“O que nós sabemos hoje é que se nós tivermos que enfrentar para valer a pandemia, nós precisamos agir de maneira contundente sobre a desigualdade social. Sem isso, brancos e mais ricos se preservarão e as vidas negras não vão importar”, afirma o ex-ministro da Saúde e professor Arthur Chioro.

Estudos científicos no Brasil e no exterior apontam as profundas desigualdades socioeconômicas e étnico-raciais relacionadas aos riscos de infecção. “Por exemplo, a pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Pelotas, chamada Epicovid-19. Ela tem demonstrado que os mais pobres apresentam o dobro do risco de infecção em comparação a pessoas mais ricas”, afirma o ex-ministro, em comentário no Seu Jornal, da TVT, nesta quarta-feira (15).

Infecção em alta

Os indígenas apresentam risco cinco vezes maior do que os brancos, destaca Chioro. “Um estudo na Baixada Santista também mostra que as pessoas negras, pretas e pardas auto-referidas, aquelas que têm menor renda familiar, menos de três salários mínimos, e menos trabalho formal e menor nível de escolaridade, chegam a até o dobro de infecção pela covid-19”, diz Chioro.

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Chicago testou 4.413 pessoas e encontrou 17,8% com resultados positivos para covid. “Mas apenas 9,6% eram brancos, enquanto 78,9% por cento dos testados eram negros. Jamais a composição étnica da população norte-americana é composto por 79% de negros”, afirma.

Serviços essenciais

Segundo Chioro, essa diferença ocorre porque a maioria dos negros trabalha em serviços essenciais, como motorista de ônibus, funcionários públicos da área da saúde, segurança. “São exatamente as profissões em que se expõem mais”.

Pesquisa realizada no Reino Unido também revela que na Inglaterra e País de Gales homens negros têm três vezes mais chances de morrer pela covid-19. Outro estudo feito pela Nature usando dados de 17 milhões de pacientes mostra também que as pessoas negras são as mais suscetíveis ao coronavírus.

Chioro diz que os fatores que prevalecem nessa diferença de infecção são a pobreza, o caos periférico, menor acesso aos serviços de saúde, e também maior prevalência de comorbidades.

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