Valorização do dólar pressiona inflação e encarece itens de consumo

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De alimentos a gasolina e passagens aéreas, quase tudo tem o preço influenciado pela taxa câmbio, e não há como escapar, apontam especialistas

Por FERNANDA FERNANDES

 

Quem está acostumado a comprar produtos importados e a realizar viagens ao exterior sabe bem quanto a alta do dólar pesa no bolso. O que uma parcela da população desconhece é que praticamente todos os serviços e bens consumidos no país são influenciados pelo valor comercial da moeda norte-americana, atualmente cotada a R$ 5,34.

Segundo Bentes, mesmo as pessoas que estão trabalhando de casa, saindo pouco e não têm automóvel são atingidas pela desvalorização do real frente ao dólar. “Quem está em home office também consome produtos que chegam em sua casa por meio de algum transporte que queima combustível fóssil, cotado em dólar, que repassa custos no preço final”, observa.

A alta na moeda norte-americana tem atingido pessoas de todas as classes sociais. A médica Naiana Magalhães, 35 anos, conta que a programação de ir aos Estados Unidos neste mês teve que ser cancelada em razão, principalmente, do alto valor do dólar turismo, hoje cotado a R$ 5,57.

“Quando planejamos passar 10 dias em Miami, imaginávamos que o dólar estaria abaixo de R$ 5. Fazer essa viagem hoje seria inviável, por isso, pedimos o reembolso e vamos remarcar quando a taxa de câmbio arrefecer”, afirma Naiana.

“Há um ano, era inimaginável que passagem aérea fosse o terceiro item que mais pressionaria o IPCA. Isso só foi possível porque aumentou a circulação, que permitiu reajuste nas tarifas do transporte aéreo, e porque boa parte dos custos da aviação são afetados pela taxa de câmbio. O combustível utilizado é cotado em dólar, atingindo não só viagens ao exterior, mas as domésticas também”, afirma Fabio Bentes, da CNC.

Fernanda Consorte, economista do Banco Ourinvest, explica que cerca de 30% do índice que mede a inflação oficial do país é composto de produtos influenciados diretamente pela taxa cambial.

O aumento do preço desses produtos, por sua vez, acaba refletindo no custo dos serviços, acrescenta Bentes. “Os preços livres, que são estabelecidos por oferta e demanda, ainda estão com inflação baixa, mas há indícios claros de que serão contaminados pelo dólar”, diz.

José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), observa que alimentos e combustíveis são os itens que sentem mais rapidamente os efeitos da variação cambial.

“O preço dos alimentos é cotado em dólar e sofre as pressões de oferta e demanda internacionais, inclusive vindas do Brasil, que é um grande produtor. Então, quando há uma desvalorização do câmbio, automaticamente o preço aumenta. Se há valorização do real frente ao dólar, aí o preço diminui”, destaca o economista.

A vendedora de roupas autônoma Cissa Colado, 41 , tem sentido a carestia dos itens básicos. Mãe de seis filhos, incluindo uma bebê de nove meses, ela desabafa: “A alimentação, os lanches, são o que mais tem apertado no dia a dia. Depois disso, o combustível, a água e a luz. Por sermos muitos, já era caro, agora, está surreal”, afirma a moradora de Taguatinga.

José Aparecido Freire, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), explica que as empresas de produtos importados precisam lidar com a insegurança, uma vez que a oscilação cambial constante impede o cálculo preciso da margem de lucro. “É difícil driblar esse problema, porque o pagamento da importação é feito no dia em que o produto é despachado, não no dia da compra. É só quando o produto chega que o empresário vai saber qual é a margem que vai ter”, diz.

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