Cepal: cenário pós pandemia exige Estados de bem-estar, e não austeridade

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Entidade aponta retração do PIB, 44 milhões no desemprego e 96 milhões na pobreza extrema

Alicia: investimento público deve ser direcionado para setores que fomentem o emprego, a paridade de gênero e a inclusão social

São Paulo – “Os desafios centrais da política econômica no pós pandemia estão na construção de Estados de bem-estar, o fortalecimento do desenvolvimento produtivo e a implementação de políticas para fomentar a sustentabilidade ambiental”, diz a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Em relatório (leia aqui a versão em espanhol), a entidade afirma que “as políticas de austeridade não são a resposta adequada para os desafios fiscais e monetários que se enfrentam”.

Em seu Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2020, a Cepal analisa efeitos econômicos da pandemia na região e recomenda políticas de enfrentamento. A secretária-executiva da entidade, Alicia Bárcena, observou que o processo de recuperação da atividade será mais lento do que no período da crise global desencadeada a partir dos Estados Unidos em 2007-2008.

Pobreza extrema: retrocesso

A Comissão estima em 9,1% a retração do Produto Interno Bruto (PIB) da região neste ano. “Com isso, ao final de 2020 o nível do PIB per capita seria igual ao de 2010, ou seja, haveria um retrocesso de 10 anos com um forte aumento da desigualdade e da pobreza”, aponta o relatório. Antes do início da pandemia, havia 158 milhões de trabalhadores informais na região, o que corresponde a mais da metade (54%) dos ocupados.

A entidade projeta ainda o fechamento de 2,7 milhões de empresas formais em 2020. E o desemprego atingiria 44 milhões de pessoas. Dezoito milhões de pessoas a mais em relação ao ano anterior, maior aumento desde a crise global de 12 anos atrás.

Já a pobreza voltaria aos níveis de 2005, afetando 231 milhões de pessoas. Por sua vez, o retrocesso na pobreza extrema seria de 30 anos, atingindo 96 milhões de pessoas.

Transformação estrutural

“Nesse cenário, serão necessárias políticas macroeconômicas ativas para retomar o crescimento e promover uma agenda de transformação estrutural”, afirma Alicia. Ela fala em fortalecimento de receitas públicas e manutenção de “políticas monetárias expansionistas convencionais e não convencionais”. E lembra que “a cooperação internacional é fundamental”.

“Os países devem direcionar o gasto público para a reativação e transformação econômica, fortalecendo o investimento público para setores que fomentem o emprego, a paridade de gênero, a inclusão social, a transformação produtiva e uma transição igualitária em direção à sustentabilidade ambiental”, acrescenta a secretária-executiva da Cepal. Outro desafio é manter “uma política fiscal ativa em um contexto de maior endividamento”.

Os países da região precisam aumentar a arrecadação tributária, que corresponde a 23,1% do PIB, em média, ante 34,3% da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Para isso, é preciso combater a evasão e a elisão tributária, que chegam a 6,1% do PIB regional”, aponta a Cepal.

O estudo mostra que, no primeiro trimestre, o PIB caiu em nove das 20 economias da América Latina (incluindo o Brasil) e desacelerou em oito. A contração foi de 1,53% em comparação com igual período de 2019. A entidade observa que os efeitos da pandemia começaram a ser sentidos em meados de março.

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