Combate à desigualdade também é política macroeconômica, defende Crocco

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O diretor-presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Marco Aurélio Crocco, defendeu uma mudança de paradigma para o combate à desigualdade. Para ele, não se trata apenas de uma questão de ordem social, mas também de política macroeconômica.

“O Bolsa Família não é um só programa social. A cada real que você dá, é 1,7 real no PIB. Dar dinheiro para as pessoas mais pobres é investimento. A poupança deles é zero. Gastam cada centavo. A desigualdade social tem que entrar na política industrial, tecnológica e de infraestrutura urbana. Ela se expressa na estruturação das cidades”, avaliou.

Convidado para o debate Bancos públicos e desenvolvimento econômico e social, que aconteceu na quarta-feira 13, em Belo Horizonte, dentro da série Diálogos Capitais, Crocco acredita que pensar a atuação dos bancos públicos e de investimento é o ponto de partida para se enfrentar o que chamou de “desafios contemporâneos”.

Segundo ele, na história mundial, estas instituições, regidas pelo pensamento macroeconômico em curso, eram as responsáveis por induzir o crescimento, o que se perder a partir da predominância do pensamento neoliberal.

Enquanto a meta era o pleno emprego, o sistema público financeiro tinha como função antecipar o investimento autônomo para criar a demanda. Com a crise do pensamento keynesiano, nos anos 80, a meta passou a ser a estabilidade monetária.

“Os bancos público e de investimento deixam, então, de ter papel. Aí se começa o processo de privatização. A Associação Latino Americana de Desenvolvimento tinha 173 instituições filiadas em 1980. Hoje tem 75”, comentou. “Não é só a diminuição física, mas o papel acessório na política macroeconômica. No Brasil, os bancos públicos nacionais passaram a ter o papel acessório de estruturar os processos de privatização da década de 90”.

De acordo com Crocco, a crise de 2008 veio para solapar a lógica macroeconômica calcada na privatização. China e Japão interromperam processos de privatização de bancos públicos e de desenvolvimento. Os Estados Unidos chegaram a discutir a criação de uma nova instituição pública destinada a financiar a infraestrutura.

Neste novo paradigma, os bancos públicos americanos e europeus tornaram-se mitigadores de risco para a atuação do mercado de capital. O Brasil teria seguido as duas primeiras fases – antecipar o investimento autônomo para criar a demanda e, posteriormente, a privatização.

“Durante os governos Lula, isso inverteu. Criou-se um mercado de massa. Os bancos públicos reduziram taxa de juros, dando o acesso ao consumo”, disse Crocco. “Hoje há uma indigência intelectual da ortodoxia. Estão cumprindo uma agenda dos anos 90, privatizando tudo, quando organismos internacionais já aceitaram que não é por aí”.

Para ele, é preciso “uma resistência de salvaguarda destes instrumentos que serão fundamentais para uma política de criação de demanda efetiva, de industrialização e transição de economia”.

Fonte: Carta Capital

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