Para organizadores, evento alternativo ao Fórum Mundial da Água deve consolidar fóruns regionais permanentes de diagnóstico, acompanhamento e oposição ao controle do bem público, essencial ao direito humano, pelo setor privado
por Cida de Oliveira, da RBA publicado 19/03/2018 18h59, última modificação 19/03/2018 20h53
MAB/BAHIA
Ribeirinhos e atingidos do oeste da Bahia em ato na ponte central de Bom Jesus da Lapa, banhada pelo São Francisco
Brasília – Com mais de 6 mil inscritos, representando povos indígenas, quilombolas, pescadores, ribeirinhos, camponeses, moradores das periferias urbanas e trabalhadores contra a privatização da água do Brasil e de outros 30 países localizados em todos os continentes, o Fórum Alternativo Mundial da Água (Fama 2018) é o maior evento alternativo da história.
Além das 2.000 pessoas que desde o último sábado (17) participam das mais de 200 atividades realizadas na Universidade de Brasília (UnB) para debater e refletir a importância da água para a vida, outras 5.000 são esperadas. Elas vêm de caravanas de diversas partes do Brasil, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP).
Entre eles, estão ribeirinhos e atingidos da região oeste da Bahia. Antes de seguir para Brasília, realizaram diversos atos, como na ponte central do município de Bom Jesus da Lapa, banhado pelo Rio São Francisco, fechando trecho da BR 349.
A região sofre com a exploração da água principalmente pelo agronegócio, com dezenas de empresas estrangeiras de monocultura para exportação. Segundo o movimento, apenas a fazenda Igarashi, alvo de manifestação, retira 183 metros cúbicos de água por dia, o equivalente a mais de 106 milhões de litros diários.
Ao se juntar a outras caravanas, os participantes deverão compor o grande acampamento do Fama 2018, no Pavilhão do Parque da Cidade Sarah Kubitschek.
O local, que desde a manhã de hoje (19) passou a sediar as atividades do fórum alternativo, fica próximo ao Centro de Convenções Ulysses Guimarães e do Estádio Nacional Mané Garrincha, que recebem o 8º Fórum Mundial da Água, aberto oficialmente pela manhã.
Em entrevista coletiva, organizadores do Fama reafirmaram o caráter político do evento, em contraponto ao fórum oficial, para o qual não foram convidados. Realizado pelo governo brasileiro, tem apoio de empresas multinacionais, como Coca Cola, Nestlé, Ambev e Dow Química, uma das maiores produtoras de agrotóxicos do mundo, com interesse direto na privatização da água.
“Chegar até aqui, realizar o fórum como estamos realizando e manter a organização dos comitês são desafios que vencemos. É a primeira vez que a gente consegue reunir na mesma mesa tantos setores da sociedade civil nacional e estrangeira para discutir água”, disse o assessor da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Edson Aparecido da Silva, que integra a coordenação do Fama 2018.
Segundo ele, a proposta é que o fórum se torne permanente e que os comitês existentes em 20 estados sejam ampliados. “Precisamos aglutinar ações permanentes de defesa da água, da soberania sobre a água e da democracia, conduzidas pelas igrejas, sindicatos, povos tradicionais”.