Produtores agroecológicos reivindicam a reestruturação do aparato federal de apoio para produzir e distribuir alimentos saudáveis
Publicado 15/09/2022 – 14h10
São Paulo – Movimentos ligados à produção familiar e sustentável de alimentos em todo o país defendem a agroecologia para combater a fome e a pobreza. E reivindicam a reestruturação do aparato federal de apoio ao meio rural para produzir, distribuir e vender alimentos saudáveis.
A Articulação Nacional de Agroecologia lançou nesta quarta-feira (14) o relatório Brasil, do flagelo da fome ao futuro agroecológico. O estudo analisa o desmonte de políticas públicas federais de apoio à agricultura familiar, agroecologia e segurança alimentar e nutricional pelo governo de Jair Bolsonaro. E expõe impactos dessas medidas, como desabastecimento, aumento dos preços dos alimentos e ressurgimento violento da fome, que atinge mais de 33 milhões de pessoas. Além disso, apontam para um futuro desejado no campo agroecológico, considerando a conjuntura dos próximos quatro anos.
“Não há dúvidas de que os desmontes em curso foram fruto da entrada de uma nova coalizão de atores na estrutura do Estado, os quais defendem o Estado mínimo, a existência de uma única agricultura no Brasil e não reconhecem a importância e a diversidade de modos de vida da agricultura familiar e camponesa”, disse a pesquisadora Catia Grisa, do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“A análise trouxe muitos resultados interessantes. Mas o principal deles é desvelar que o que ocorreu com as políticas agrícolas, ambientais, alimentares e de desenvolvimento rural nos últimos anos resultou de uma estratégia deliberada para favorecer determinados setores das elites agrárias e financeiras, em detrimento da ampla maioria da população brasileira”, disse o pesquisador Paulo Niederle, que também atua na UFRGS.
Os setores articulados defendem, como necessidade prioritária, o restabelecimento e ampliação das políticas de combate à fome. Desde as mais emergenciais, como os programas Fome Zero e Brasil Sem Miséria, o Bolsa Família, os restaurantes populares e os bancos de alimentos. E medidas estruturantes, como a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), a Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Para a Articulação Nacional de Agroecologia, o conjunto de temas identificados como prioritários na agenda do movimento agroecológico aponta para uma convergência. O entendimento de que a superação da fome e a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional constituem uma urgência absoluta.
As organizações alertam que a superação da fome e da pobreza só será possível com a garantia do direito à terra e ao território, a realização da reforma agrária, o direito à educação e à saúde, a promoção da igualdade de gênero e de raça/cor/etnia e o combate aos preconceitos, entre outras questões que, sob diferentes aspectos, se relacionam diretamente com o conceito da agroecologia.