Número de agências bancárias no Ceará em 2021 é o menor dos últimos 10 anos

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Automatização e mudança de perfil da categoria têm causado transformações no segmento

Com tudo mais automatizado, sair de casa para resolver pendências em agência bancária tem se tornado cada vez menos uma realidade para muitos. Hoje, com poucos cliques é possível transferir quantias em dinheiro e mesmo solicitar empréstimos a bancos pelo smartphone.

Dessa forma, o número de estabelecimentos físicos tem diminuído nos últimos anos. Até agosto de 2021, foram registradas 448 agências no Ceará, a menor quantidade dos últimos 10 anos. No ano passado, o Estado contabilizou 19 estabelecimentos a mais, de acordo com dados do Banco Central.

Apesar disso, essa redução se dá de forma lenta, com variações pequenas. Veja os dados abaixo:

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na comparação entre 2019 e 2020, último dado disponível, o número de postos de atendimento variou de 38,2 milhões para 38,1 milhões em todo o Brasil.

“Os bancos estão adequando suas estruturas à nova realidade do mercado, em que a utilização dos canais digitais de atendimento vem ganhando espaço em detrimento dos canais físicos e presenciais”, explicou a Febraban por nota.

INVESTIMENTO EM TECNOLOGIA

Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2021 apontou que somente em 2020 o investimento em tecnologia foi de mais de R$ 25 bilhões, 8% a mais que o empregado em 2019.

“Esse investimento em tecnologia é fundamental. Leva aos clientes soluções mais simplificadas, seja com aplicativos, seja com alternativas digitais em detrimento da rede física. Além disso, a pandemia acelerou esses processos”, aponta Ronaldo Cerqueira, especialista em carreiras do mercado financeiro e segmento bancário.

Cerqueira destaca as divergências no Brasil com relação à cobertura de atendimento, que ainda sofre com lacunas.

“Essa situação muda muito conforme as regiões brasileiras. Para muitas localidades, que não têm essa cobertura, o futuro dos bancos é ter uma agência bancária”.

RONALDO CERQUEIRA

especialista em carreiras do mercado financeiro

Um levantamento do Sindicato dos Bancários do Ceará (Seeb-CE) mostra que, dos 184 municípios cearenses, 82 não possuem posto de atendimento.

“É um cenário que preocupa principalmente porque a população ainda necessita de um atendimento, especialmente a mais vulnerável e mais idosa. Isso passa pelo desenvolvimento econômico de um país, o qual é muito desigual, precisamos muito de crédito”, ressalta Carlos Eduardo Bezerra, presidente do Sindicato.

MUDANÇA DE PERFIL DA CATEGORIA

Além da virtualização, os especialistas apontam que o crescimento das cooperativas de crédito também motiva esta redução. Segundo Cerqueira, a participação dessas empresas corresponde hoje a 7% do mercado. “Espera-se que nos próximos três anos tenha um boom principalmente no Norte e Nordeste”, afirma.

Cerqueira acrescenta que isso se dá por uma mudança no perfil da categoria, pois apesar do fechamento das unidades físicas, há uma implementação de novas funções no meio digital. “Temos percebido muito isso nas praças do Sudeste com o crescimento dos setores de investimentos nos bancos. A área comercial vai crescer bastante nos próximos anos”.

“A virtualização desse sistema de pagamento vem impactando nesse perfil da categoria. Neste último período, tivemos um aumento da contratação de profissionais que trabalham com tecnologia dentro dos bancos, há mais de 20 mil trabalhadores de TI”, destaca Bezerra.

MENOS EMPREGOS?

Com essa tendência de redução, a perspectiva é que também haja uma diminuição dos empregos no setor. Um monitoramento realizado pelo Sindicato Nacional dos Bancários com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) aponta que 11 mil postos de trabalho foram fechados no setor com a pandemia.

“O saldo de empregos tem ficado negativo. Em todo o Brasil, de 2013 a 2020, cerca de 82 mil postos de trabalho foram fechados. No Ceará, o saldo também está negativo. Em contrapartida, o perfil da categoria mudou muito, já temos a atuação de trabalhadores em fintechs, cooperativas, empresas de investimentos”.

CARLOS EDUARDO BEZERRA

presidente do Seeb-CE

A visão é endossada por Cerqueira. “Os empregos não estão simplesmente sendo reduzidos, mas estão passando por essa transformação. O que vai fazer muitos empregos desaparecerem é a falta de atualização desses profissionais, tudo o que puder ser digitalizado pelos bancos, vai ser, mas isso acontece com o tempo”.

Apesar disso, a Caixa Econômica Federal, por exemplo, anunciou neste ano um plano de expansão com a abertura de 268 unidades em todo o País. A previsão é de que o Ceará receba 17 delas até o fim deste ano. Outras 70 serão abertas em toda a região Nordeste.

Além disso, serão realizadas 10 mil contratações, entre empregados e terceirizados para fortalecer a rede de atendimento.

Já o Banco do Brasil realizou em setembro as provas do certame para contratação de 4.480 novos funcionários de área administrativa e tecnologia da informação.

A instituição anunciou neste ano um plano de reorganização do banco com a desativação de 361 unidades (112 agências, sete escritórios e 242 postos de atendimento), a conversão de 243 agências em postos de atendimento e oito postos de atendimento em agências. No Ceará, a previsão é do fechamento de 11 agências.

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