(O Povo) Editorial – Eleições: o desafio de pensar o Nordeste

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A frequência com que os candidatos à Presidência da República visitam o Nordeste faz parecer que há em curso uma mudança na geografia do voto. Ou que essas romarias eleitorais se traduzem em projetos para a região. Nem uma coisa nem outra.

Dos 13 concorrentes ao Palácio do Planalto, nenhum cuidou em preparar uma agenda específica para atender os interesses dos 39 milhões de eleitores nordestinos, satisfazendo-se com medidas genéricas.

Não é diferente agora. Nas vésperas das eleições, os concorrentes voltam a amiudar as visitas aos nove estados nordestinos. Por aqui, cumprem o roteiro de sempre, empacotado à perfeição pela marquetagem política. E haja candidato trajando indumentária de vaqueiro e andando de jumento, degustando o baião de dois e dançando o forró.

Embora apresente problemas como qualquer outra região nacional, o Nordeste impõe desafios particulares ao ocupante da cadeira de presidente. Tem um conjunto de demandas próprias a requerer de cada postulante esforço de elaboração. E não somente diretrizes genéricas.

É a essas pautas que os candidatos devem se voltar quando de passagem por Ceará, Piauí, Pernambuco, Maranhão, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas: à questão hídrica, à falência da política de atração de empresas, ao redesenho do pacto federativo, ao incremento das agências de desenvolvimento da pesquisa e da tecnologia, ao engajamento cada vez maior das facções criminosas, ao surto de doenças antes consideradas sob controle, à deficiência do ensino formal etc.

Assim como a estiagem, no entanto, a procura pelos votos é cíclica e obedece a razões muito claras, nenhuma delas relacionadas aos tópicos mencionados acima. Liga-se mais a uma lógica de disputa política assentada em bases ultrapassadas, ainda impregnadas dessa gramática do curral eleitoral.

Desde pelo menos 2002, porém, não houve eleição em que o voto da região não tenha sido decisivo, condição que só tem se acentuado com o tempo.

Sobretudo a partir desta semana, os candidatos à sucessão de Michel Temer (MDB) vão andar por esta terra. Que o eleitorado não se contente com ninharias e passe a exigir soluções reais para problemas sistemáticos, alguns deles seculares, como é o caso da falta d’água.

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