Em debate do Cebes, ex-ministro defendeu agenda para ampliar produção de tecnologia no Brasil. O SUS enfrenta grandes desafios, opina. Para solucioná-los, país deve potencializar ao máximo o complexo econômico e industrial da saúde
Publicado 21/02/2022 às 07:00 – Atualizado 18/02/2022 às 19:45
Na época da criação do SUS,o Brasil foi extremamente ousado. Hoje, em vez do ambiente mundial hostil daquela época, existe uma percepção muito favorável ao fortalecimento dos sistemas públicos universais, e, além disso, há no Brasil uma percepção inédita, na sociedade brasileira, da importância do SUS. Esses comentários são do deputado federal e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha no debate sobre os grandes desafios da Saúde nos próximos anos, promovido pelo Cebes (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde).
Essas circunstâncias constituem terreno fértil para a defesa do Sistema Único de Saúde como vetor do desenvolvimento brasileiro. O ex-ministro, registrou o Cebes, defendeu essa proposta. Ele ressaltou “a necessidade de uma grande agenda para ampliar a produção de tecnologia e a inovação tecnológica, medicamentos, insumos e serviços, além do fortalecimento da formação profissional para dar conta de uma agenda de inovação nesse complexo”. O SUS enfrenta grandes desafios, e o Brasil não vai superá-los se não potencializar ao máximo o que existe no país de capacidade instalada do complexo econômico e industrial da saúde.
É o clássico caso de trocar dois problemas por uma solução. Padilha falou da relevância da disputa política no Congresso, mencionada também pelo Secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, presente ao debate. Nésio salientou a necessidade de garantir que o orçamento da saúde permita a reformulação necessária do sistema de saúde. Para isso, tem que haver resistência à atual política e a defesa de novos caminhos concretos. Alicerçar o desenvolvimento na Saúde tem tido boa repercussão.
“Não podemos mais tratar a saúde sem considerá-la um mega sistema produtivo da Nova Economia”, explicou o economista Carlos Gadelha, coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, em um encontro sobre o assunto organizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Saúde gera investimento, gera ciência e tecnologia e gera emprego: 8 milhões de empregos diretos e quase 20 milhões de empregos diretos e indiretos. Uma política industrial articulada com o setor produtivo, criaria um ciclo econômico virtuoso.
Entre outras coisas, reduziria a dependência brasileira do exterior, exemplificada por crescentes déficits comerciais, como se vê no gráfico a seguir. Trata-se de uma expectativa madura. A possibilidade de uma grande evolução nacional por esse caminho já vem sendo debatida e estudada por tempo suficiente, como se vê pelo documento A saúde no Brasil em 2030, produzido pela Fiocruz em 2021, durante a gestão de Padilha no ministério da Saúde.
Ressalta-se nesse texto que a saúde “articula um conjunto de tecnologias portadoras de futuro, em um contexto (econômico) em que a inovação é um diferencial da competitividade de países”. Em retrospectiva, se observava o aumento significativo da participação de empresas nacionais no mercado farmacêutico propiciada pela consolidação do segmento de produção de medicamentos genéricos no Brasil. Foi “um importante ponto de inflexão na trajetória de crescimento da indústria nacional”.
Além disso, o Brasil possui ampla gama de instituições, dizia o texto, “na sua maior parte institutos públicos de pesquisa, que contam com grupos consolidados de pesquisa na área da saúde e, particularmente, em áreas de fronteira da biotecnologia aplicada à saúde”. Em suma, arremata-se bem a posição de Padilha, dizendo que o Brasil passa por uma oportunidade que combina a boa percepção do SUS no plano nacional e a nova tendência global por sistemas nacionais públicos de saúde.