Na contramão do mundo, Brasil vendeu a Eletrobras. Livro O Futuro é Público mostra inúmeros casos de reestatização pelo mundo
O governo francês anunciou na última terça-feira (19) que vai reestatizar a Électricité de France, a maior empresa de energia nuclear da Europa. A justificativa é de que a França terá mais segurança energética.
Atualmente, o governo possui 84% das ações e vai recomprar tudo o que está no mercado desde 2004 ao custo de 9,7 bilhões de euros. A bolsa de valores de Paris reagiu bem ao anúncio e as ações da empresa subiram 14,7%.
“Isso mostra, mais uma vez, que o caminho para uma sociedade mais justa, forte e solidária, é público. A lógica disso é simples: se é público, é para todos. Se é privado, é para quem pode pagar. Ou seja: é para poucos”, explica a coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e conselheira eleita para o Conselho de Administração (CA) da Caixa, Rita Serrano.
Essa decisão francesa não é novidade no exterior. A entrega do setor a investidores privados, potencialmente estrangeiros, não faz parte das políticas dos maiores produtores de energia hidrelétrica do mundo. Juntos, China, Canadá, Brasil e Estados Unidos são responsáveis por 52,8% da energia hidrelétrica produzida no mundo, segundo dados da Agência Internacional de Energia.
Na China, o governo controla todo o sistema. Sistema esse que conta com as maiores usinas hidrelétricas do mundo. Muito maiores que Itaipu, por exemplo. No Canadá, onde 60% de toda energia produzida é hidrelétrica, o sistema é todo gerido pelos governos provinciais (equivalente aos estados brasileiros).
Já nos EUA, o maior operador de energia hidrelétrica é o Corpo de Engenheiros do Exército. Isso mesmo: quem controla o sistema é o Exército Americano.
Na contramão do mundo
Na contramão do mundo, o governo do presidente Jair Bolsonaro vendeu em junho deste ano, a Eletrobras por R$ 33,7 bilhões. A privatização ocorreu contra a vontade dos brasileiros. Em pesquisa divulgada pelo instituto PoderData em 1º de abril, 56% da população revelou ser contraria a venda da Eletrobras.
A maior empresa de energia da América do Sul é composta por 233 usinas de geração de energia (incluindo Furnas – que opera 12 hidrelétricas e duas termelétricas e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco – Chesf). São outras seis distribuidoras, todas na região Norte e Nordeste. Mais de 61 mil quilômetros de linhas de transmissão, metade do total do país e o suficiente para dar uma volta e meia no planeta.
A Eletrobras controla um quarto da geração da energia elétrica do país e 50% da energia armazenada. Quem controla essa energia, controla o preço.
Estudo do Coletivo Nacional dos Eletricitários revela a conta de luz pode aumentar, em um primeiro momento, até 16,7% com a privatização. O ex-presidente da Eletrobras Luiz Pinguelli Rosa, é ainda mais pessimista. Pelos cálculos dele, o aumento pode chegar, em média, a 25%.
O Futuro é Público
O livro O Futuro é Público é revela que mais de 1,4 mil serviços foram reestatizados no mundo todo porque a administração privada se mostrou problemática e ineficaz. A versão impressa foi lançada em junho na Comissão de Diretos Humanos do Senado Federal.
O livro é gratuito e a versão digital está disponível em: http://www.comiteempresaspublicas.com.br/portal/comite-empresas-publicas/noticias/versao-em-portugues-do-livro-o-futuro-e-publico-sera-distribuida-virtualmente.htm
A versão em português conta com artigo de Rita Serrano, intitulado: Estado pós-pandemia e Empresas Públicas no Brasil.
“A defesa do Bem-estar Social e de uma sociedade mais justa perpassa, sobretudo, pelo fortalecimento e atuação das empresas públicas. São elas que, de fato, executam os programas que compõe a rede de proteção social do estado. O Futuro é Público oferece informações e dados que contribuem na defesa de um Estado mais fraterno. A leitura imperdível”, finaliza Rita.