Que estratégia queremos para um banco de desenvolvimento?

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Texto 1
O caráter de uma instituição de desenvolvimento determina sua missão, sua estratégia e seu funcionamento. Um banco de desenvolvimento, cujo resultado perseguido não é o lucro e sim a superação de desigualdades, deve trabalhar uma estratégia consistente, que seja assimilada intrinsecamente por todos seus trabalhadores e refletida nas ações, das mais simples às mais complexa. Assim, deve ser, por exemplo, no Banco do Nordeste, cujas atribuições e premissas constam na lei que constituiu o BNB.

No dia 8 de abril, data da última reunião de negociação entre entidades representativas e Banco do Nordeste, o Banco informou que estaria sendo elaborada uma Proposta de Ação Administrativa (PAA) para ser encaminhada à Diretoria da Instituição, revendo algumas atividades e atribuições desenvolvidas no âmbito das agências. Dentre elas, as peculiares dos agentes de desenvolvimento.

A AFBNB, por diversas vezes, procurou o Banco do Nordeste para discutir a sua estratégia de desenvolvimento e nela as atribuições que caberiam aos agentes, assim como a todos os funcionários, considerando que em todas as áreas do Banco o objetivo final é o desenvolvimento.

A busca por interlocução da AFBNB com o Banco para contribuir com a estratégia de desenvolvimento da Instituição não é nova, basta ver os inúmeros documentos elaborados pela Associação (“O Banco de Desenvolvimento do Nordeste”, em 2002; pesquisa e documento sobre os agentes, em 2005; documento “Por um Nordeste Melhor”, em 2006; “Projeto de Mobilização Político-social para o Desenvolvimento Regional”, em 2007; proposta de um “Fórum de Acompanhamento da Ação Estratégica de Desenvolvimento da Região”, em 2008, além de diversas notas e jornal Nossa Voz, específico sobre o assunto). Isso não ecoou nas esferas responsáveis no Banco do Nordeste.

Por isso é importante aproveitarmos o momento que se antecede ao lançamento de uma PAA – que ao tratar dos agentes de desenvolvimento deve abordar a estratégia de desenvolvimento do Banco – para refletirmos sobre essa questão fundamental para o Banco do Nordeste e seus trabalhadores: qual a estratégia de desenvolvimento que queremos para o BNB, enquanto banco de desenvolvimento?

Ao contrário do que alguns possam pensar, a resposta à pergunta acima impacta diretamente no cotidiano dos funcionários do Banco, nas condições de trabalho e nos salários, além de impactar na vida de milhares de nordestinos. Isso porque algumas atitudes têm peso diferente a depender do que se compreende por desenvolvimento. Por exemplo: metas parecidas com os bancos comerciais significa desenvolvimento? Aplicação em grandes empresas significa desenvolvimento? Desenvolvimento para quem? Quais são os resultados e impactos sociais que se espera de uma ação desenvolvimentista?

O que se vê e se ouve dos funcionários é cobrança por metas, foco em operações comerciais, ambiente de trabalho que estimula a competição e não a solidariedade, o individual e não o coletivo.

A Associação vem fazendo essa discussão há anos. Assim, tem contribuído concretamente para o despertar da essência do desenvolvimento e não poderia se furtar a continuar fazendo este ano. Por ser um ano eleitoral, é fundamental pensarmos em que bases o Banco está firmado e que repercussões a transição de governo terá na Instituição.

É claro que, a depender do cenário político-econômico e social, adequações devam ser feitas para que se alcance uma estratégia maior, balizadora de toda a ação institucional. No entendimento da AFBNB está faltando ao Banco do Nordeste justamente esse foco, uma estratégia consistente de desenvolvimento. Senão, vejamos apenas alguns exemplos:

– O Plano de Cargos e Remuneração do BNB se aproxima mais do de um banco de mercado do que de um banco de desenvolvimento. Na proposta de acordo coletivo do ano passado e deste ano é proposto que, pela importância e missão do Banco, a carreira no BNB seja reconhecida como carreira de estado.

– Dentre as funções do Banco, pelo que se apreende dos contatos realizados pela entidade nas agências, apenas os agentes de desenvolvimento são cobrados por ações de desenvolvimento. Mesmo assim, já há muito tempo se fala na reestruturação da função, com uma atuação mais voltada para negócios, o que não é essencialmente desenvolvimento. Em agosto de 2009, o então diretor de Gestão do Desenvolvimento do BNB, Pedro Lapa, deu a seguinte declaração para o jornal Nossa Voz: “Nós somos bancários; o agente de desenvolvimento é um bancário. A primeira marca que eu imagino que devemos proceder é reinserir o agente na atividade bancária, que é a atividade principal do Banco”.

Para estimular esse debate, a AFBNB divulgará, diariamente, durante esta semana, notas nas quais relembrará documentos já produzidos quanto à estratégia de desenvolvimento do BNB e os pontos defendidos pela entidade para que o Banco cumpra de fato sua missão, de indutor do desenvolvimento da região. Você é chamado a contribuir com o debate. A Associação está à disposição. Participe!

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