O Ceará tem ganhado destaque no noticiário, infelizmente, por diversos casos de violência que refletem a vulnerabilidade que se encontra a segurança pública no Estado. Um fato lamentável nesse sentido ocorreu no último dia 27 de janeiro, quando uma chacina no bairro Cajazeiras deixou um total de 14 pessoas mortas, a maioria mulheres, e quase duas dezenas de feridos. O fato ganhou repercussão no Brasil e no mundo, chamando a atenção para a situação de crise na segurança pública do Estado – que não é de agora, mas se agravou no final de 2016 quando os números relacionados a homicídios começaram a crescer.
Em 2017 foram registradas 5.134 mortes violentas intencionais no Ceará. Em janeiro deste ano, já foram computadas 456 pessoas assassinadas, sendo o “pior janeiro” em cinco anos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSPDS). Outro dado que salta aos olhos nessa análise é a quantidade de jovens e adolescentes vítimas da onda de violência. Segundo dados do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), entre janeiro e setembro de 2017 foram mortos 709 jovens, sendo 293 apenas na capital cearense.
A evasão escolar é um dos fatores tidos como fundamentais para entender o envolvimento de jovens nesses casos. Em levantamento do CCPHA, constatou-se que mais 70% desses jovens mortos estavam fora da escola e que uma das motivações mais fortes seria a “ameaça de facções”. Este é outro fator que, em parte, explica o presente cenário da violência. Surgidas em outras regiões do País, e mesmo criadas no próprio Ceará, as facções atuam como poder paralelo ao Estado, disputando o território das metrópoles no contexto do narcotráfico, promovendo e disseminando execuções em redes sociais e “recrutando” adolescentes em situações de vulnerabilidade social, conforme relatos de agentes e estudiosos da Segurança Pública veiculados na imprensa.
Em meio a essa situação, o Governo anunciou novas medidas que contemplam a contratação de novos policiais e o incremento da polícia ostensiva na capital e no interior, o que é chamado pelos integrantes do poder público de “repressão qualificada”.
Pela complexidade da questão há de se constatar que a reversão do quadro passa não somente por medidas dessa natureza, mas por investimentos em políticas inclusivas, qualificação profissional, cultura/lazer, infraestrutura e urbanização nas periferias ou melhorias no sistema educativo.
Diante de todo esse contexto, durante sua reunião da Diretoria ocorrida na última sexta feira (2) e sábado (3), a AFBNB debateu o assunto no espaço dedicado à análise de conjuntura, que ocorre em cada reunião. Diretores e assessoria dialogaram acerca de experiências de outros Estados sobre a matéria que perpassa diversos pilares da sociedade, desde a falta de maiores investimentos em áreas sociais até a questão da cultura do machismo, presente com maior força, principalmente no Nordeste, alimentando a cultura do feminicídio, haja vista o aumento dos casos de mortes violentas envolvendo mulheres.
O cenário é um reflexo bastante visível da falta de políticas públicas que atendam e garantam direitos básicos à população, principalmente das periferias das grandes metrópoles. É preciso salientar que o desenvolvimento almejado não se reflete apenas nos índices econômicos, nos anúncios dos lucros dos bancos, ou no aumento do PIB, mas principalmente na qualidade de vida dos cidadãos, perpassando também o incremento das políticas voltadas para o desenvolvimento integral do ser humano, suas capacidades, suas aptidões e a assistência básica em todos os níveis. O desenvolvimento que queremos precisa contemplar a melhoria das condições de vida da sociedade. A busca por um Nordeste melhor deve estar baseada nessas premissas e pelo fim das desigualdades extra e intra regionais, bandeira que marca fortemente a ação da AFBNB ao longo dos seus 32 anos.
Para acessar o material produzido pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência ACESSE AQUI
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