Brasil pode chegar a 600 mil mortes por covid em agosto, alerta Gonzalo Vecina

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O Brasil registrou neste domingo (18) mais 1.657 vidas perdidas em decorrência da covid nas últimas 24 horas. Ao todo, já são 373.335 vítimas da doença, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). O levantamento aponta a confirmação de novos 42.980 casos de covid-19, elevando o total de infectados para 13.943.071. Essa é a segunda pior semana epidemiológica em número de óbitos, com 20.344 vidas perdidas nos últimos sete dias.

Com isso, a média móvel de mortes chegou a 2.885. Já são 23 dias seguidos que o país registra mais de 2.500 óbitos diários. A situação sanitária que já grave ainda pode se agravar, conforme aponta o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina. Em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, o infectologista adverte que, diante do ritmo atual de contaminações, a estimativa é que o Brasil chegue em agosto com mais de 600 mil mortos pela covid. “Porque de fato não estamos vendo nenhuma movimentação no sentido de reduzir a possibilidade de encontro (com a doença)”.

Vecina chama atenção para a gestão sanitária em Araraquara, coordenada pelo prefeito Edinho Silva (PT) que adotou um confinamento rigoroso no final de fevereiro e desde então a cidade registra queda no número de infecções, internações em UTI e de mortes. De acordo com fundador da Anvisa, a postura de enfrentamento evidenciou que “tem um caminho e um jeito de controlar essa pandemia”.

A falta que faz o controle nacional

“Tem que fazer o isolamento social, seguir o distanciamento, usar máscara para diminuir o número de casos. E tem que haver proteção para os pobres para que eles tenham condição de levar comida para casa, distribuição de cestas básicas, kit de alimentação, para que as pessoas possam comer. Quem não pode comer vai sair na rua atrás de comida, e quando sai na rua encontra o ‘bicho’, não tem jeito. Por isso temos três vezes mais mortos entre os pobres”, observa Vecina.

Por outro lado, o modelo de Araraquara também expõe o quanto faz falta uma coordenação nacional de controle da pandemia, conforme pondera Vecina. O infectologista avalia que a situação da covid no Brasil poderia ser mais grave não fosse a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir que estados e municípios adotassem restrições quanto ao direito de ir e vir  diante da omissão do governo de Jair Bolsonaro. “Agora é óbvio que com 5.570 municípios, são 5.570 sentenças. E 27 estados são 27 sentenças. Temos levantamento de casos e mortes em estados bolsonaristas e não bolsonaristas. E deu a lógica. Estados que tiveram preocupação com a circulação de pessoas e do comércio tiveram menos mortes do que estados que liberaram a vida para o se dizer normal”, destaca.

Estados bolsonaristas, mais mortes

Um estudo divulgado na última quinta-feira (15) pelo Congresso em Foco mostra que os 12 estados em que Bolsonaro foi o mais votado no primeiro turno das eleições em 2018, lideram as estatísticas oficiais de óbitos até o dia 6 de abril. A lista é encabeçada por Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. Entre as unidades federativas, Rio Grande do Sul e Santa Catarina se despontam na região Sul. Já Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo são destaques no Sudeste. Também fazem parte Roraima, no Norte, e Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul no Centro-Oeste. Não há nenhum estado do Nordeste, onde a maioria é formada por partidos da oposição ao governo federal.

“O mais ilustrativo é o Amazonas. Governador facínora que deu origem a duas ondas, além da falta de oxigênio que ele (Wilson Lima (PSC)) é corresponsável junto com o Ministério da Saúde. Eles sabiam que ia faltar oxigênio e não fizeram a única coisa que tinham que fazer, que era colocar cilindros em aviões e levar. Então eles são responsáveis e temos que cobrar por essa quantidade de mortes que tivemos. Precisamos que o Judiciário e o Legislativo façam a sua parte com essa história da CPI (da covid)”, conclui o infectologista.

Até março, segundo o epidemiologista Pedro Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), o cálculo era que três, a cada quatro mortes por covid no Brasil, poderiam ter sido evitadas não fosse o trabalho ‘vexatório’ de Bolsonaro.

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