Luta do MPA pelos direitos dos camponeses é pautada pelo respeito à natureza, a valorização e o amor à agroecologia
O campesinato sempre foi caudatário das políticas do latifúndio e por isso sempre teve que lutar
O Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), nasceu durante uma mobilização histórica pela agricultura camponesa. Frei Sérgio Antonio Görgen, dirigente do MPA e integrante do Assentamento Conquista da Fronteira, no Rio Grande do Sul (RS), conta que tudo começou nos anos 1990, após uma forte seca, que motivou uma grande e simbólica conquista.
“Numa estiagem brutal do ano de 1995, que entrou no início do ano 1996, sem nenhuma política pública, sem nenhum sistema de proteção ou seguro, foram para a beira da estrada lutar por um crédito emergencial para suportar o drama da seca daquele ano. Essa mobilização depois de quatro semanas de luta foi vitoriosa (…) A gente considera que ali foi o surgimento do Movimento”.
O campesinato no Brasil é formado em sua maioria por pessoas que descendem dos povos indígenas, africanos e imigrantes europeus. Um contexto social, em grande parte, à margem do modelo de desenvolvimento capitalista.
“O campesinato sempre foi caudatário das políticas do latifúndio e por isso sempre teve que lutar, lutar por reformar agrária, pra se manter na terra … dão sustentação ao campesinato até hoje”, ressalta Görgen.
O MPA está presente em 19 estados de todas as regiões do país e já organizou aproximadamente 100 mil famílias camponesas de forma direta. É o caso da camponesa e agroecóloga gaúcha Rosiele Ludtke, que deixou de plantar fumo para embarcar na agroecologia e assim conseguiu a tão sonhada casa própria.
“Na reconversão da produção de tabaco foi tudo feito no sistema agroecológico. Então resgate de sementes crioulas, resgate da sabedoria sobre as plantas medicinais, aprender a fazer os nossos próprios insumos, se tornar cada vez mais livre, mais autônomo ou construir uma soberania em todo o processo. O movimento foi fundamental para que a gente pudesse dar esse passo”, conta.
A gente do movimento tem ressignificado cada vez mais essa questão de quem é o sujeito camponês
Saiane Santos, coordenadora da Secretaria Nacional do MPA no estado da Bahia, também destaca o comprometimento da agricultura familiar ligada ao Movimento com a produção saudável e agroecológica.
“A gente entende que a agroecologia é um processo muito mais amplo. A gente fala que é a produção de alimentos saudáveis, mas também é a relação com a natureza, é a relação dos seres humanos, entre quem produz e quem consome. Então a gente não produz um alimento por exemplo pra somente que quem tenha dinheiro possa consumir”, afirma.
Nestes 26 anos, o Movimento dos Pequenos Agricultores teve muitas conquistas: moradia camponesa, crédito para agricultura, acesso a água encanada para as comunidades rurais, seguro agrícola e a ampliação do crédito para produção de alimentos.
Além há os projetos de sementes, de assistência técnica e extensão rural, incluindo a criação do Programa Camponês e da afirmação da identidade dos trabalhadores do campo.
“A gente do movimento tem ressignificado cada vez mais essa questão de quem é o sujeito camponês… A identidade do sujeito camponês”, conclui
Ludtke.
Edição: Douglas Matos