Campanha pelo voto consciente no semiárido tem foco na fome e sede

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Para a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), que coordena a campanha, os efeitos da fome potencializada pela crise hídrica sobre as famílias agricultoras do sertão são terreno fértil para as tentativas de compra de voto

A água ainda é a principal moeda de troca da política nos municípios localizados no Semiárido, região brasileira onde as secas são mais severas e prolongadas

São Paulo – Com a aproximação das eleições, a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) lançou a campanha ‘Não Troque seu Voto’, em defesa do voto consciente, cujo foco é o combate à fome e sede no sertão. A iniciativa é fruto de debate político no final de maio, norteado pela Carta “ASA por um Semiárido Vivo”, dirigida aos candidatos aos cargos no Executivo e Legislativo. E traz propostas para enfrentamento da escassez hídrica que agrava a fome, a insegurança alimentar e também a violência contra a mulher rural, entre outros problemas.

Direito humano reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e essencial à vida, a água ainda é a principal moeda de troca da política nos municípios localizados no Semiárido, região brasileira onde as secas são mais severas e prolongadas, segundo a ASA Brasil.

A prática secular, segundo a articulação, ganha novos contornos no contexto atual, com um milhão de pessoas ainda sem acesso à água de consumo humano no Semiárido. Situação que contribui para o aumento da fome, que atinge 33,1 milhões de pessoas, conforme inquérito da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) sobre insegurança alimentar no contexto da pandemia da covid-19 no Brasil, com dados de 2021. E só piora. O número de domicílios com moradores passando fome saltou de 9% (correspondente a 19,1 milhões de pessoas) para 15,5% (ou seja, 33,1 milhões). Em pouco mais de um ano a fome incluiu mais 14 milhões de brasileiros em seu domínio macabro.

Voto consciente contra o clientelismo

É nesse cenário avassalador sobre as famílias agricultoras do sertão, que configura um terreno fértil para as tentativas de compra de voto, que a campanha ‘Não Troque o Seu Voto’ retorna às ruas, segundo a ASA Brasil.

“Esta não é uma eleição comum. Essa é uma eleição extremamente importante. É um divisor de águas na nossa história. Eu diria que essa é a eleição dos nossos tempos. As pessoas que têm mais idade, viveram o horror e a tragédia da Ditadura Militar no Brasil. Os mais novos, as mais novas precisam conhecer também esse período. Nós não podemos voltar à Ditadura Militar e essa eleição é importante porque ela pode fragilizar ainda mais a democracia, ou até perdermos a democracia no Brasil totalmente. Ou podemos retomar o fortalecimento da democracia. A Campanha ‘Não Troque o seu Voto’ [recomenda que você] valorize o seu voto, comprometa o seu voto com propostas claras, decentes, importantes para o Semiárido brasileiro. É fundamental pra gente avançar no fortalecimento da democracia no Brasil”, disse à RBA o coordenador Executivo da ASA pelo estado da Bahia, Cicero Felix.

A campanha pelo voto consciente foi realizada pela primeira vez em 2012, quando as cisternas já eram uma realidade na vida das famílias e a região semiárida já caminhava rumo à meta de 1 milhão de tecnologias implementadas por meio de políticas públicas que entendiam a água como um direito e não um favor. As famílias já desfrutavam da autonomia hídrica e política, autonomia essa que era a mensagem central da primeira edição da campanha: ‘A Água É Um Direito Seu’.

Voto em candidaturas comprometidas com as demandas

As peças traziam dados sobre as conquistas sociais alcançadas pela população, de forma democrática, como também orientava a pesquisar, analisar e votar apenas em candidaturas comprometidas com políticas públicas voltadas à agricultura familiar, à agroecologia e à convivência com o Semiárido de um modo geral. Já em 2018, com a mudança no cenário político, a Campanha ampliou a sua abordagem para dialogar com o contexto político da época, marcado pela redução de investimentos em políticas de bem-estar social, por meio da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 95. Naquele ano, o Programa Cisternas já enfrentava os cortes mais drásticos de orçamento registrados desde 2015.

Já era um tempo em que o Brasil havia retornado ao Mapa da Fome, com mais de 2,5% do total da população em situação de insegurança alimentar grave. A desigualdade social se agravou, a população ficou mais vulnerável e a troca de votos ressurgiu com força, até com políticos clientelistas oferecendo cestas básicas e até o pagamento de contas de luz.

Nessa nova abordagem, segundo a coordenação da campanha da ASA Brasil pelo voto consciente, são pautadas questões como o que é democracia e qual a importância de votar para que esse sistema se mantenha fortalecido, pela manutenção das conquistas sociais, pelo caminho das políticas públicas de governo, além da importância de ampliar a representatividade nas composições das casas legislativas e executivas, elegendo mulheres, negros e negras, e pessoas LGBTQIA+.

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