Economia brasileira está ‘em coma’, afirma Pochmann

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Segundo economista da Unicamp, melhora na economia passa por mudança política. Sem participação do Estado, investimentos caem, aumentando a dependência do agronegócio

Pochmann vê 2021 como mais um ano perdido em termos de crescimento

São Paulo – Após o IBGE divulgar retração de -0,1% no PIB do segundo trimestre, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta-feira (2) que o Brasil está em “crescimento sustentável”. De acordo com o economista Marcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Guedes está “sonhando acordado”. Para ele, o cenário é muito mais grave, combinando altas taxas de desemprego, inflação elevada e aumento das taxas de juros. Com o progressivo recuo da atividade industrial, o país fica cada vez mais dependente do agronegócio. Além disso, falta um ação orquestrada do governo brasileiro no sentido de estimular os investimentos.

“Parece-me que o ministro está sonhando acordado”, disse Pochmann em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (3). Ele destaca que, desde o último trimestre do ano passado, a atividade econômica vem desacelerando, chegando a atual situação de quase “paralisia”. “A impressão é que o Brasil segue em coma”, disse o economista.

Ele explica que alta da inflação tem relação direta com os “macropreços” controlados pelo governo, como dos combustíveis e da energia elétrica. Contudo, para conter a escalada inflacionária, o Banco Central tem elevado a taxa básica de juros (selic). O resultado é uma redução ainda maior do poder aquisitivo das famílias.

“Portanto, não tem consumo suficiente para sustentar a produção. Então estamos num ciclo vicioso. Infelizmente, já podemos contar com um ano de 2021 já condenado a uma expansão, se houve, medíocre”, disse Pochmann. Segundo ele, ainda há risco de agravamento do cenário econômico até o final do ano, por conta da ameaça de apagão.

Falta de planejamento

Pochmann destacou que Estados Unidos, China e União Europeia têm anunciado vultosos pacotes de investimentos públicos para superar os impactos econômicos da pandemia. “No Brasil não há nada nesse sentido. É um governo que praticamente cancela o futuro.” Os horizontes do governo são limitados, segundo ele, buscando apenas retornar aos níveis de atividade econômica do período pré-pandemia.

Sem planejamento e investimento público, a economia brasileira permanece “à espera de um milagre” relacionado ao mercado externo. Quando esse milagre não vem, como ocorreu no segundo trimestre, o setor agropecuário, que é dependente das exportações, registrou recuo de -2,8%. Nesse sentido, Pochmann afirma que a indústria e os serviços representam “muito pouco” do ponto de vista do dinamismo da economia.

“O Brasil viveu sob esse prisma até 1930 basicamente. Tudo está sendo preparado para produzir e exportar, mas isso não alimenta o povo brasileiro, não gera emprego. Não gera dinamismo nacional, mas sim ilhas de prosperidade num mar de pobreza, que é infelizmente o quadro que se apresenta no país nos dias de hoje”, afirmou.

Sem emprego

Dado o cenário de degradação econômica, os investimentos registraram queda de -3,6% no segundo trimestre. Segundo o IBGE, a taxa de investimento em relação ao PIB ficou em 15,4%, a menor desde 2015. Com o aumento das incertezas, e sem a atuação do estado, os investidores privados se retraem ainda mais. A consequência é a interrupção da criação de novos postos de trabalho, impactando especialmente os jovens. Pochmann destaca que a maioria da população entre 16 e 29 anos está desempregada ou subempregada. Ele destaca ainda que, em regra geral, o jovem que entra na universidade é aquele que está trabalhando. Sem emprego, as oportunidades educacionais também se fecham.

“É um quadro muito ruim, mas possível de ser revertido. A reversão passa por uma mudança da maioria política que conduz o país, que tem uma visão equivocada das possibilidades brasileiras. O Brasil pode mudar de rumo, como já mudou em outros momentos. Tem potencial para isso, mas essa mudança não é econômica obviamente. Deve ser consequência da mudança política que se espera poder fazer no Brasil em breve”, declarou o economista.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima

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