Henrique Marinho: "O PDV é viável para o ajuste fiscal nas contas públicas?"

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Claro que essa não é uma solução viável para o ajuste das contas públicas do Brasil. Parte da atual crise fiscal por que passa o Estado brasileiro tem sua origem conjuntural, em boa parte advinda mais da redução de arrecadação por causa da brutal recessão do que pelo excesso de gastos públicos e tem levado o governo à tomada de decisões de curto prazo que envolve a elevação da arrecadação, por intermédio de elevação de impostos, como a recente elevação dos preços dos combustíveis e na minoria das vezes por meio do corte de gastos públicos.


No entanto, a maior parte da crise é estrutural, considerando que a Constituição brasileira estabeleceu obrigações do Estado com a sociedade de forma tal que não dá ao mesmo a capacidade de fazer gestão orçamentária, tendo em vista as vinculações obrigatórias para as despesas com educação, saúde, previdência, transferências aos estados e municípios e a programas sociais e outros. A eficácia da gestão desses recursos apresenta baixíssima produtividade.


Mesmo sem alterar as obrigações constitucionais, porque foi uma opção da sociedade, o governo precisaria implementar um programa estratégico de gestão eficaz dos recursos públicos e da máquina administrativa para reduzir desperdícios e melhorar a gestão pública, profissionalizando sua estrutura administrativas. Mas, em vez de tentar resolver o problema da gestão, o Governo renasce com a velha ideia de um Programa de Desligamento Voluntário (PDV) como solução simplista para os problemas fiscais do País. Pode até ter um impacto midiático ao mostrar que o governo está reduzindo sua folha de pagamento com pessoal.


Esses programas de PDV utilizados no Brasil têm como objetivo resolver problemas temporários de caixa dessas empresas, reduzindo o custo com mão de obra. Em sua maioria, não se pensa na capacidade de gestão das empresas porque esses trabalhadores que se desligam são, em sua maioria, os mais capacitados, os que têm maior empregabilidade. Bom para os que aceitam aderir ao PDV, mas terrível para as empresas que perdem seus melhores talentos; aqueles que conhecem a cultura da empresa, aqueles que carregam a empresa. 


Henrique Marinho


hjmmarinho@gmail.com


Economista, membro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) e conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon)


Source: SAIU NA IMPRENSA – 300

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