Retrato brutal das desigualdades climáticas

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Enquanto 50% do planeta polui bem menos do que o limite fixado pelo Acordo de Paris, o 1% mais rico emitirá 30 vezes mais carbono que sua “cota” até 2030. COP-26 poderia mitigar distorções com metas proporcionais a quem mais polui: o Norte global

A pegada de carbono do 1% mais rico do mundo está caminhando para ser 30 vezes maior do que o nível compatível com a meta de 1,5°C para 2030, conforme estabelecido no Acordo de Paris, de acordo com a pesquisa Desigualdade de Carbono em 2030 – emissões de consumo per capita e a meta de 1,5°C, divulgada nesta quinta-feira (4/11) pela Oxfam. Clique para baixar (versão em inglês).

Líderes globais estão reunidos na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), que começou no último dia 1/11 em Glasgow (Escócia) e vai até o dia 12 de novembro, e lutam para fazer valer a meta estabelecida pelo Acordo de Paris, em 2015.

O acordo celebrado na capital francesa limita a meta de aquecimento global em 1,5°C, acima dos níveis pré-industriais, mas as atuais promessas de reduzir as emissões estão muito aquém do necessário. Para ficar dentro desse limite, cada habitante do planeta teria que emitir uma média de apenas 2,3 toneladas de CO² por ano até 2030 – isso é quase a metade da pegada média de cada pessoa hoje.

No estudo divulgado hoje, que foi encomendado pela Oxfam com base em pesquisas realizadas pelo Instituto de Política Ambiental Europeia (IEEP) e pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), estima-se como as promessas dos governos afetarão as pegadas de carbono das pessoas mais ricas e mais pobres em todo o mundo. O estudo colocou a população global e todos os grupos de renda como se fossem um único país.

Com isso, teríamos em 2030:

  • A metade mais pobre da população global vai continuar emitindo bem menos do que o nível proposto de 1,5°C em 2030.
  • O 1% mais rico deve emitir 30 vezes mais do que o nível de 1,5°C proposto.
  • Os 10% mais ricos deverão emitir 9 vezes mais.
  • Quem está no grupo do 1% teria que reduzir suas emissões em cerca de 97% em relação ao que emite hoje para atingir o nível proposto.

Mas como sinal de que o Acordo de Paris assinado em 2015 está tendo algum impacto, 40% da população está no curso para os cortes de 9% per capita de emissões, necessários até 2030. Esse grupo é composto majoritariamente por cidadãos de países de renda média como China e África do Sul, que tiveram um aumento maior nas taxas de emissões per capita entre 1990 e 2015.

Considerando as emissões totais globais, em vez das emissões per capita, o 1% mais rico do mundo – menos pessoas que a população da Alemanha – deve ser responsável por 16% do total de emissões globais em 2030, acima dos 13% de 1990 e 15% de 2015. As emissões totais dos 10% mais ricos devem, sozinhas, exceder o nível de 1,5°C proposto para 2030, independentemente do que os outros 90% fizerem.

“Uma pequena elite parece ter um passe livre para poluir”, afirma Nafkote Dabi, responsável pela área de Política Climática da Oxfam. “Suas emissões exageradas estão alimentando a crise climática em todo o mundo e colocando em risco a meta internacional de limitar o aquecimento global. As emissões dos 10% mais ricos do mundo podem nos colocar acima da meta estabelecida para 2030. Isso terá resultados catastróficos para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade no mundo, que já enfrentam tempestades, fome e destituição.”

A geografia da desigualdade global de carbono também deve mudar, com uma fatia maior de emissões do 1% mais rico ligada a cidadãos dos países de renda média. Em 2030, os cidadãos chineses serão responsáveis por quase 25% das emissões do 1% mais rico. Os americanos serão responsáveis por quase 20% e os indianos, 11%.

Para a Oxfam, os líderes mundiais deveriam focar em cortar ainda mais emissões para 2030, proporcionalmente às contribuições dos países mais ricos para o problema. Ou seja, os países e pessoas mais ricas devem cortar mais emissões. Os cidadãos mais ricos têm potencial para acelerar esse processo, adotando estilos de vida mais sustentáveis e também dirigindo sua influência política e investimentos para uma economia de baixo carbono.

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