As contas secretas no exterior vindas a público com o caso Pandora Papers são um exemplo de como agem os rentistas do país, avessos a obrigações com o fisco
Em junho, o governo enviou à Câmara dos Deputados um projeto de lei de autoria do Ministro da Economia, Paulo Guedes, o PL 2337/21, que altera a legislação do Imposto de Renda. Os rentistas se rebelaram contra a ideia de que teriam de pagar imposto sobre a renda auferida em investimentos – imposto como todo brasileiro comum paga.
A gritaria dos que ganham sempre foi geral. Articulistas e os meios de comunicação apontaram o que chamam de “peso” da carga tributária no Brasil, a perspectiva de “fuga” de investimentos, a queda da bolsa e outros quetais, diante da investida de taxar lucros e dividendos, coisa que o mundo todo faz, a exceção de dois países, sendo um, o Brasil.
É comum alardearem que a carga de impostos aqui é muito alta e torna o país inviável. Não dizem que, enquanto nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) a tributação sobre a renda é de 11,4%, no Brasil, o paraíso dos ricos, a tributação sobre a renda é de 7%. Não revelam também que empresários que faturam até R$ 4,7 milhões por ano são isentos de Imposto de Renda sobre o resultado do negócio. Não revelam que o Imposto de renda final nas empresa é de 15%, enquanto “cada ricaço” (isto é uma ironia) brasileiro que ganha mais de R$ 5 mil reais mês paga 27,5% de IR.
Além da carga tributária, para um boa parcela que pensa em sair do Brasil pesa a lei contra quem sonega imposto lá fora, um crime punido com severidade, que leva para a cadeia quem teima em descumprir regras tributárias. Situação bem diferente da nossa, onde a lei para os ricos é uma abstração, só valendo para quem não pode contratar um bom advogado.
Escândalos como os da “Pandora papers” e “Panamá Papers” mostram como muitos rentistas que se dizem “patriotas” apostam contra o Brasil e o povo. São exemplos que se repetem. Eles exploram nossos recursos e força de trabalho e logo levam suas fortunas para paraísos fiscais com o objetivo de sonegar impostos. Ou seja, carregam o butim para bem longe do país.
Infelizmente, ricos e milionários, muitos que tentam sequestrar as cores da bandeira nacional, mantêm seus recursos em paraísos fiscais para se livrarem dos tributos e esconderem a origem de suas riquezas. Um exemplo lapidar são contas mantidas em paraísos fiscais pelo Ministro da Economia e o Presidente do Banco Central, vindas à publico esta semana.
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Em qualquer país do mundo, o ministro teria de se explicar, ainda mais quando, há poucos dias, o ministro que esconde contas em paraíso fiscal, para defender uma proposta pífia de reforma tributária, denunciava que ricos no Brasil não querem pagar imposto. Parece cômico, mas ele devia estar se olhando no espelho durante suas entrevistas, para falar a verdade de si próprio, ou seja, de não querer pagar imposto, nem revelar a origem de sua fortuna.
Há um ditado popular que diz: “a hipocrisia é um mal que impede o homem de andar pelo caminho da honestidade”. Pior ainda quando se trata de pessoas que têm poder político, manipulam informações para iludir a população, criam leis e regras institucionais, para beneficiar a si próprio. Isto passa a ser um mal ainda maior, é uma violência e agressão contra o povo que trava uma batalha a cada dia para sobreviver.
* Marcel Barros é vice-presidente da Associação Nacional de Participantes de Fundos e Pensão e de Beneficiários de Saúde Suplementar de Autogestão (Anapar). Foi diretor eleito de seguridade da Previ por oito anos; Francisco Alexandre é ex-diretor eleito de Administração da Previ e ex-diretor Superintendente da BRF previdência.