Por JEANE Ramos da Silva, associada da AFBNB e trabalhadora da Biblioteca Passaré(Célula de Cultura).
Para pensarmos a importância da Cultura como um dos pilares do desenvolvimento sustentável e dessa forma visualizar o Banco do Nordeste no seu papel e missão com a garantia de viabilidade e pertinência da sua ação creditícia, começaremos percebendo que esse desafio está em dar visibilidade aos ganhos e a importância da Economia da cultura como fator de consolidação de um projeto estrutural abrangente, dentro de uma realidade cultural diversificada com possibilidade de integração e sustentabilidade no decorrer do tempo. Como podemos transformar em números o que o olhar intuitivo da dinâmica cultural, econômica e social inspiram?
Aqui faço uma reflexão para chamar a atenção da importância das Ciências Humanas para se pensar o conceito de cultura e política. Conhecimento não é igual à informação. Diferente da informação que é “rasa” e por vezes é facilmente usada para criação de privilégio e controle, o conhecimento é complexo, vivo e coletivo; é ele em si patrimônio imaterial humano; só funciona sendo compartilhado; é um esforço emancipatório da aventura humana e esse coletivo mencionado não é igual a uma assembléia, aliás não tem nada a ver, assim como nem toda conversa é igual a um diálogo.
Podemos seguir a princípio por duas grandes possibilidades, ou melhor dois grandes movimentos. O que parte do indivíduo*subjetividade para o coletivo*comunidade; e um outro que parte do coletivo para o indivíduo. Nesse sentido, a cultura como produto da engenhosidade humana e ao mesmo tempo geradora de uma identidade própria que podemos a tempo inferir com o conceito de regional. Então, temos uma cultura local dentro de uma estrutura econômica social regional que, em intrínseca relação com a comunidade, reflete nela enquanto produto*trabalho e essência*potência. Enquanto produto, permitindo uma sustentabilidade econômica de si mesma na sua microestrutura o que se pode inferir criação de valor a partir de uma matriz da Economia Criativa. Por outro lado, enquanto essência*potência desenvolvendo e dando visibilidade a uma identidade local em meio a estrutura econômica e social que se insere no contexto regional, nacional e mundial.
Voltando ao movimento da microestrutura que constrói a macroestrutura e da macroestrutura que constrói a microestrutura. Podemos entender cada ação cultural do Banco como um fractal organizando uma expressão coletiva na tríade formada pela cultura, economia e comunidade, é um microuniverso que reflete um macrouniverso cultural, “negocial” e social nordestino, brasileiro e mundial. A imagem é um caleidoscópio onde cada nova ação forma uma imagem que se constrói a cada movimento, numa infinidade de possibilidades há cada olhar. E é dessa forma complexa e dinâmica que se pode entender a Cultura e a Economia Criativa na sua importância seja como catalisadora de uma possibilidade de desenvolvimento local, seja como um laboratório criador de significado e conhecimento e é a partir desse tipo de conhecimento que a ação cultural do Banco pode ser corretamente avaliada e proporcionar ganhos exponenciais à economia de uma localidade.
Trabalhar com a Cultura não é só tê-la como patrimônio palpável, estável e pré-existente é também, num esforço de imersão nas Ciências Sociais. Entendê-la e enxergá-la além de um viés estanque e material, mas e principalmente como um conhecimento real e imanente, transformador e persistente. É dessa forma que a Política Cultural do Banco, pensada e executada na realidade regional do semiárido Nordestino pode ser percebida face de uma tríade que ao promover uma ação de desenvolvimento recria a identidade ancestral de um povo potencializando e resignificando através da cultura o seu trabalho local.
A gente sempre vem entendendo e entende bem a capilaridade como tentáculos de um movimento que se faz de cima para baixo. Então, é simples entender os ganhos que o presencial traz a uma instituição bancária, basta dizer que a simples informação sobre quantidade já é em si um bom argumento. Nesse sentido, comparamos que o Banco A está presente em 8 (oito) cidades e portanto é menor que o Banco B que está presente em 10 (dez) cidades; até aí estamos analisando linearmente a importância ou a riqueza desses dois Bancos.
Entretanto, podemos fazer inferências que poderiam modificar substancialmente nossa conclusão, como por exemplo, conhecer que cidades são essas. Dessa forma um Banco que está presente em 8 (oito ) cidades todas capitais e o outro com 10 (dez) cidades todas do interior, mostram primeiro que a ação desses Bancos são de naturezas diferentes, consequentemente sua missão e desempenho se movem de forma e em estruturas diversas.
Estruturas essas que podem convergir, divergir, complementar, competir; enfim cabe ao observador dentro da sua intenção configurar as informações diluídas numa análise quantitativa e projetá-la numa visão integrada. Por isso, quantificamos nossas ações num primeiro momento; mas somente percebemos o sucesso das nossas intenções se conseguirmos enxergá-las de forma total, integradora, plural, humana.
O outro lado ou o que podemos definir como o aspecto qualitativo se concebe na existência de um movimento invisível de baixo para cima que é criador de conhecimento, valor, possibilidade e de oportunidades. Como percebemos esse movimento e então entendê-lo como uma estrutura dinâmica capaz de proporcionar um tipo de desenvolvimento que se consolide no tempo? A fórmula é ir de um ponto ao outro conforme a lógica se apresentar necessária. Então, a ação cultural e creditícia do Banco como generalidade formam uma estrutura e nos aproximamos dela por seus aspectos quantitativos. Entretanto a natureza da sua ação só é passível de real medição se nos ativermos a ela na sua face mais típica, que não pode ser dissociada de sua estrutura local e específica. Cada município da área de atuação do Banco assim como as ações de desenvolvimento e cultura tem uma dinâmica própria, única e diversa e é nessa condição e é com esse olhar que é possível entendê-los: municípios, Centros Culturais, Bibliotecas…como um conhecimento real humano e factível de se tornar referência positiva na missão de um banco de desenvolvimento regional.
E ainda, só podemos inferir de forma pensada uma ação de desenvolvimento ressaltando esse movimento de dentro para fora, do local para o regional, do micro para o macro. E assumindo esse movimento como propulsor e definidor das nossas ações macroestruturantes. Portanto, voltando à importância do Banco do Nordeste, enquanto instituição de atendimento e iniciativa diferenciada, percebemos ser o seu papel fundamental a organização de uma economia criativa local. Papel este que habilmente deve ser formalizado pela cultura como fator econômico de sociabilidade regional. Nesse sentido, a Política Cultural do Banco do Nordeste pode ser tratada, também, como uma estratégia de qualificação do crédito no seu formato mais frágil e urgente que são as iniciativas dos pequenos, micro e médios empreendedores. Estruturando e retratando a dinâmica própria cultural, negocial e social de cada município; ao mesmo tempo que o integrando à macroestrutura política, econômica e social.
- Qualificação do crédito – Partimos do princípio que as pessoas vão ao Banco porque precisam e ou querem dinheiro como vetor de investimento e precisam nesse momento de acolhimento e da ambiência bancária favorável.
- Por outro lado a sustentabilidade do crédito depende da organização da economia local e dos trabalhadores da cultura, que por sua vez depende da pertinência ou da necessidade de produtos que aquela comunidade ou localidade produz.
- Nesse sentido observamos que o produto cultural é um produto necessário e urgente, consistente e criativo…sustentável, pois está impregnado de simbolismo, de memória e de necessidade material.
Esse é um texto livre que busca trazer alguns conceitos elaborados pelas Ciências Sociais para pensar uma política cultural perpassada pelo meu olhar e prática teórica experimentada na área cultural do Banco do Nordeste.
Sou Jeane Ramos Cientista Social.
Outras abordagens possíveis:
1 Produtos culturais, tipologias e qualificação do crédito
2 Oferta de equipamentos culturais e ação cooperativa com as políticas Culturais do Ministério da Cultura.
3 Vinculação com o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) estabelecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
4 Aproximação e articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social – possibilidade de ações de desenvolvimento em comunidades quilombolas.
5 Ganhos exponenciais – Articulação , consolidação e sustentabilidade.
6 A Economia da Cultura – Luis Carlos Prestes Filho e Cadeia de Musica Interior do Rio de Janeiro.
7 A Literatura em Parati
8 O sucesso negocial do Rock in Rio
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